terça-feira, 5 de agosto de 2014

Histórias do Paraná - O protesto dos esculópios

Histórias do Paraná - O protesto dos esculópios

O protesto dos esculópios
Ayrton Ricardo dos Santos

O aumento considerável da população, a especialização crescente, a presença sistemática de secretárias nos consultórios e o custo sempre mais elevado dos insumos na área da saúde, tem contribuído para o distanciamento entre médicos e pacientes. E, também, para a menor difusão dos execrados atestados graciosos.
Na inexistência de justificativas razoáveis e pertinentes para as faltas ao trabalho ou prestação de compromissos escolares, apelava-se para os atestados frios, que proliferaram em nossa sociedade como um mal necessário.
Para eliminá-los de vez, só mesmo buscando outros mecanismos capazes de suprir seus compromissos, qualquer que seja o motivo.
Se declinou nos últimos tempos, o uso e abuso de atestados graciosos é pratica antiga.
Na biografia que traçou do Dr. Espínola, o nosso saudoso Heitor Borges de Macedo narra episódio acontecido cerca de setenta anos atrás.
O General Nepomuceno da Costa, na ocasião comandante da 5* Região Militar, determinou que, para justificar as faltas dos soldados, só fossem aceitos atestados firmados por médicos militares, pois seriam graciosos e suspeitos os fornecidos pelos profissionais civis. A lei determinava que só as faltas por motivos de saúde seriam justificadas...
Como era de esperar, a classe médica sentiu-se ferida em seus brios pela suspeição do general.
Convocada por seu presidente, professor Dr. João Cândido Ferreira, a Associação Médica reuniu-se no Clube Curitibano.
Por proposta do Dr. Luis Medeiros, em inflamado discurso, foi redigido um manifesto de "protesto e desagravo..."
Quando chegou sua vez de assinar o documento, o Dr. Espínola levantou-se e, calmamente, declarou:
- "Estou de pleno acordo com os colegas.
Acho nobre a sua indignação, mas não posso assinar o manifesto porque tenho fornecido atestados graciosos, atendendo contingências humanas..."
Conta o Dr. Heitor que, imediatamente depois, o Dr. Simão Kossobudski se acusou de ter feito o mesmo... e, também os outros que se seguiram...
Assim, melancolicamente, gorou o protesto dos esculápios...

Ayrton Ricardo dos Santos, médico


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