sábado, 9 de agosto de 2014

Histórias do Paraná - Como o Mar Vermelho

Histórias do Paraná - Como o Mar Vermelho

Como o Mar Vermelho
Álvaro Dirceu de Camargo Vianna

Havia um alvoroço entre a rapaziada de Paranaguá naquela semana, nos anos 40!
A grande vedete nacional Araci Cortes estreava no Cine Variedades, hoje Santa Helena, uma peça burlesca. O "corpo de baile" da companhia vestia maiôs que deixaram as pernas de fora e a parte superior do busto mais descoberto que usual à época.
Mas havia um porém: o preço do espetáculo estava fora da capacidade econômica dos estudantes.
Até o "galinheiro" (como apelidavam a "Geral") não estava ao alcance de nenhum de nós.
Muito menos a platéia.
Os camarotes nem falar.
Surgiu entre alguns corajosos a idéia de — se não podiam entrar no teatro - ir de "penetra" no porão, "frestar" as coristas.
Talvez até tivessem uma visão mais privilegiada do que aqueles que compraram ingressos.
O espetáculo começa às 20:30 horas e lá pelas 18:30 um grupo composto de Coelho, Zezo Tramujas, Nelson Buffara, Milton Vernalha, Willian Buffara, Manoel Lúcio e mais uns dois ou três que me fogem à memória (nas décadas seguintes quase todos ilustres de Paranaguá e do Paraná, incluindo um deputado, médicos, professor universitário e procurador de Justiça), romperam a cerca e saltaram o muro, ficando escondidos no porão.
Ocorre que, mesmo antes de chegar perto da hora do espetáculo teatral, quando as coristas começavam a trocar de roupa, os "frestadores", entusiasmados com o espetáculo, não contiveram suas emoções. O barulho foi tanto que Araci Cortes chamou o Frota - o gerente do teatro — e denunciou o fato de que havia alguém debaixo da "coxia".
Não deu outra.
Chamada, a patrulha da polícia deu uma "batida". Flagrou todo mundo.
Ao receber voz de prisão e na impossibilidade de se evadirem, imediatamente Zezo Tramujas - futuro procurador - aconselhou enfatizando:
- "Não corram! Respeitem a lei!!! Respeitem a lei!!!"
Foram todos presos e, no caminho, ao ser avistado por Linda, sua irmã, Nelson Buffara, "berrando" pediu a ela para que avisasse Tuffi para soltá-lo.
Tuffi era o saudoso Miguel Buffara, irmão de Nelson, na ocasião advogado e que foi também deputado federal.
Foram todos soltos, pouco tempo após.
O interessante desta história é que o único que não foi preso foi o Milton Vernalha.
Pesquisador e professor emérito da Universidade Federal do Paraná, o Milton, que é até hoje um "peso pesado", à época já pesava seus 100 quilos distribuídos em 1,60 de altura.
Ninguém sabia como ele conseguiu escapar da polícia, até que Neli Rovedo, figura folclórica em Paranaguá, esclareceu o mistério.
Disse ele que, quando deram o alerta de que a polícia estava chegando, Milton passou correndo em disparada, dirigindo-se a um buraco de apenas 20 centímetros de largura por 60 de altura que havia no muro que dava para os fundos do teatro.
Foi aí que, segundo Neli, o buraco do muro sorriu quando viu Milton disparar em sua direção e pensou: - "Aquele gordo ou se esborracha ou eu me espatifo..." Mas Milton continuou avançando "a galope" em direção ao buraco.
Este, por sua vez, quando viu que Milton não parava, não teve dúvidas.
Abriu-se que nem o Mar Vermelho e Milton passou intacto, e intacto ficou o muro que após abrir-se voltou ao normal.
Embora fantástica a explicação, até hoje só resta esta versão.
Nunca contestada.
Nem pelo Milton.

Alvaro Dirceu de Camargo Vianna, advogado


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