Histórias do Paraná - Lagoa das lágrimas
Lagoa das lágrimas
Nivaldo Krueger
Em 1966, como prefeito de Guarapuava, eu me preparava para inaugurar uma bela praça no centro da cidade, substituindo um velho banhado.
Com um lago no centro, rodeado de árvores, era - e o tempo mostrou que eu estava certo — o lugar ideal para o lazer, nas tardes tranqüilas dos guarapuavanos.
Nas famosas reuniões com os assessores, surgiu a dúvida: como chamar a praça? E logo começaram as sugestões.
Uns queriam homenagear uma figura nacional da nossa história.
Outros preferiam um nome estadual, agradar essa ou aquela família de paranaense.
E os mais bairristas já apontavam as figuras famosas da história da nossa cidade para dar nome à praça.
Pensei bem e, apesar de parecer um assunto tão pequeno para um prefeito envolvido com déficits orçamentários, saúde, estradas, casas populares, etc, decidi me concentrar melhor.
Pensei numa bela história para chegar mais perto do coração do povo guarapuavano, algo que chegasse mais perto de cada um, como um presente especial, inédito.
Pensei no nosso passado, de lutas, de grande amores, de saudade e, principalmente, de coragem.
Surgiu então a história de uma índia, jovem e linda, que se apaixona perdidamen-te e, depois de algum tempo, se separa do guerreiro, que vai para outras pradarias.
Inconformada, ela se senta numa pedra à espera do amado. E o tempo passa.
Muitos anos vão correndo e a índia, fiel ao seu amor, continua chorando a ausência. E tanto chora que o local onde ela ficou sentada se transforma numa grande lagoa, que nem mesmo o sol forte dos campos gerais fora incapaz de secar.
A historinha foi tema de concurso escolar, passou para a boca do povo e, espontaneamente, virou nome da praça "lagoa das lágrimas".
Nenhum dos meus conterrâneos contestou o nome, todos se acostumaram com a história e hoje as crianças ainda perguntavam porque "lagoa das lágrimas". A juventude circula nos bares ao lado da praça.
Os mais velhos aproveitam a sombra de suas árvores e os mais românticos de coração, como eu, acabam se emocionando com a história da índia apaixonada.
Pode ser que eu tenha deixado de homenagear um ilustre guarapuavano e tenha até povoado a imaginação de jovens e velhos.
Mas penso que, hoje quando todos os olhos se voltam para roubos, falcatruas e corrupção envolvendo políticos e administradores, o fato de ter inventado a história da índia para dar nome à praça, não há de ter sido um pecado tão grande.
Afinal, governar também pode ser, às vezes, um ato de provocar a imaginação e a fantasia.
Que ajuda a enfrentar o cotidiano com certo lirismo. E alguma esperança.
Nivaldo Krueger foi prefeito de Guarapuava.
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