quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Histórias do Paraná - Nhô Cipra

Histórias do Paraná - Nhô Cipra

Nhô Cipra
Valdevino Lopes

O Distrito de Uvaia, a cerca de trinta quilômetros da sede do município de Ponta Grossa, já teve seus tempos de glória.
Foi por volta da década de 20, época em que Uvaia ainda se chamava Conchas e tinha uma economia firme calcada
no plantio de laranjas, fabricação de fumo em cordas (o melhor "amarelinho" de toda a região) e a criação de gado.
A sede de Conchas não diferia muito das demais espalhadas pelo nosso Paraná: trezentos alqueires de terra produtiva; uma igrejinha no centro com inúmeras casas em redor, construídas de barro e pau-a-pique, cobertas de telhas goivas.
Dentre as moradias, uma se destacava: era a mansão de Cypriano Gomes da Silveira, cidadão nascido no distrito e que teve toda uma vida voltada para a população ali residente.
Amigo de todos os sitiantes, chegou a ser padrinho de mais da metade das crianças ali nascidas.
O prestígio de Cypriano aumentou ainda mais entre os conterrâneos quando, graças a importantes amizades com políticos da capital e ao progresso local, conseguiu a elevação político-administra-tiva de Conchas de simples Distrito para Distrito Autônomo.
Eqüivalia a uma espécie de município em nossos dias, com prefeito e tudo.
Cypriano elegeu-se fácil como primeiro prefeito de Conchas.
De quebra, ganhou também o tratamento reverencioso de "Coronel", Coronel Cypriano Gomes da Silveira.
Sua administração foi de dois mandatos, num total de oito anos.
Nesse tempo, criou diversas escolas, abriu estradas pelo interior, incrementou o comércio.
Fez o que sonhava como amante da terra que o viu nascer.
Ponta Grossa, por sua vez, cidade com maiores recursos, crescia num ritmo bem mais rápido e atraía, com isto, a participação dos habitantes da região para suas indústrias e comércio, etc., fazendo sentir os efeitos de seu progresso em Conchas.
Foi tal sua influência que Conchas acabou perdendo sua autonomia, voltando a simples distrito.
Os próprios moradores que lá permaneciam é que pleitearam a volta de Conchas à dependência políti-co-administrativa de Ponta Grossa.
Com o povo indo embora cada vez mais, a produção de laranjas e fumo de corda diminuindo muito, comércio quase às moscas, não havia outra solução.
Mas não foi só Conchas que perdeu.
Com o fim do Distrito Independente, a maior liderança local, o Coronel Cypriano Gomes da
Silveira, perdeu também seu título honorífico.
Agora passou a ser tratado apenas por "seu" Cypriano Gomes da Silveira.
O declínio do lugar continuou. A pouca importância econômica e eleitoral de Conchas, a administração de Ponta Grossa respondia com o descaso pelas escolas e estradas.
Com pouco dinheiro circulando, o comércio vivia às moscas, ninguém ousava fazer uma benfeitoria.
Conchas já era quase um vilarejo fantasma quando "seu" Cypriano Gomes da Silveira sofreu novo baque em seu amor próprio.
Os moradores que restavam passaram a chamá-lo de "nhô" Cipra, reservando-lhe o mesmo tratamento que usavam entre si. E foi como "nhô" Cipra que morreu, anos atrás, em Ponta Grossa, o antigo Coronel Cypriano, dos tempos de prefeito de Conchas, também conhecido como "seu" Cypriano quando começou a decadência.
Lições de vida...

Valdevino Lopes, professor aposentado em Ponta Grossa


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