segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Histórias do Paraná - Um apito muito incômodo

Histórias do Paraná - Um apito muito incômodo

Um apito muito incômodo
Maria de Fátima S. Moraes

O fato que passo a relatar aconteceu com meu avô Francisco, na cidade de Paulo Frontin.
Imigrante italiano, em 1925 ele mudou-se de Curitiba para Pau
lo Frontin, onde casou com Dona Itália, viúva que já tinha seis filhos, tendo com ela mais três.
Homem culto, inteligente, de bons princípios, em pouco tempo conquistou admiração, respeito e confiança do povo da cidade e arredores.
Certo é que num dia bem cedinho, passando pela Serraria da família como de costume, foi interpelado pelo polaco Fidélis, encarregado da caldeira e também de apitar, informando as horas e a troca de turnos dos empregados, que lhe foi logo propondo:
- "Nhô Chico, o senhor bem que podia me arranjá um apito como o da Maria Fumaça que passa sempre na estação da cidade.
Então eu ia apitar igual, porque é muito mais bonito do que este que nóis tem aqui".
Seu Francisco ouviu, não prometeu nada.
No entanto, na primeira oportunidade em que veio a Curitiba solicitou a um seu parente que trabalhava de chefe de trem o tal apito, conseguindo-o sem maiores problemas.
Quando retornou, entregou-o ao velho Fidelis, que demonstrou uma alegria contagiante.
Parecia uma criança com um brinquedo que jamais esperava ganhar.
Como o passar dos dias, porém, começaram os problemas. Tão encantado estava com seu apito, que o velho Fideüs não parava de apitar o dia todo.
Apitava e apitava longamente, às vezes nos horários mais impróprios, deixando mesmo a cidade inteira em polvorosa.
Todo mundo queria excomungar o tal vi-vente, ninguém agüentava mais ouvir o maldito som.
Algumas pessoas mais incomodadas chegaram em comitiva até Seu Francisco e solicitaram providências. O seu Francisco foi então até a sala da caldeira.
Chegou de manso, muito calmo como era seu jeito, e tentando remediar a situação propôs ao foguista:
- "Pois bem Fidelis, você fez tanto uso desse apito que já deve estar cansado dele.
Vou lhe fazer então uma boa e justa proposta: pago cinco mil reis a mais em seu ordenado e você me devolve o apito."
Fidelis pensou, pensou, coçou a nuca e respondeu ao patrão:
- "Há! Nhô Chico, pois então o senhor me tira cinco mil reis do meu ordenado que eu continuo apitando".
Contam que não foi fácil convencê-lo, mesmo explicando-lhe as conseqüências que o apito trazia para os moradores da cidade. E só concordou, a contragosto e muito triste, depois de uma prolongada e sonora despedida de seu querido apito.

Maria de Fátima S. Moraes, Bacharel em Contabilidade, diretora de creche em Curitiba


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