Histórias do Paraná - As chácaras
As chácaras
Alzeli Bassetti
Na década de 50, aos domingos, várias famílias curitibanas reuniam parentes e amigos em chácaras aprazíveis, situadas em municípios circunvizinhos, que hoje são parte integrante da Região Metropolitana.
Mal a madrugada se esvaía, lá iam os convidados enfrentando estradas de acesso rudimentar, uma dificuldade logo esquecida ante a perspectiva de todo um dia de lazer integral.
As chácaras, à época, exerceram função social e pedagógica.
Porque propiciavam à garotada as primeiras noções de ecologia, através do contato direto com a natureza, na lida com animais, pomares, flores, lagos.
Este amálgama de lazer e cultura já prenunciava a integração, tanto da Grande Curitiba e da Região Metropolitana, como da faixa litorânea.
Em Piraquara, Walter e Margarida Dittrich eram anfitriões de familiares diretos e indiretos, uma fidalguia depois renovada com prazer por Zilda e Orlando - nora e filho do casal — que, mais tarde, transferiram para Antonina o sistemático encontro.
Em Morretes, a família Malucelli reunia os pioneiros da indústria paranaense e na área do comércio, eram os Prosdócimo que recepcionavam os Volpi, Bertoldi, Thá, Marcassa.
O casal Nelly e Roberto
Ozório de Almeida soube fazer de um sítio em Porto Amazonas uma extensão dos lares, congregando os Bettega, Fontana, Zanicotti, Iwersen e Bassetti.
Uma chácara de Tranquera, hoje Almirante Tamandaré, tinha "il sapore d’Itália". Os proprietários, Catarina Stocchero e Nanin Trevisan, juntamente com os três filhos adolescentes, eram exímios na arte de receber amigos, oferecendo um churrasco regado a vinho de padre, precedido por rodadas de "bocha" que, na verdade, serviam de antipasto ao número musical que se seguia.
Vozes afinadíssimas, carregadas de sentimento, se mesclavam para entoar cantigas legadas por tradição oral pelos antepassados.
Ante o olhar extasiado das crianças, iam pelos ares operetas, cançonetas e hinos, num coral que faria inveja aos ouvidos italianos.
A noite se avizinhava e a contragosto os convivas deixavam o local, ainda cantando e assoviando ao longo do trajeto de volta.
Foi nessa estufa modelar de sadia convivência humana e afeto que o maior contista atual do mundo, Dalton Trevisan, sedimentou seu caráter e acalentou suas idéias. Não admira, pois, que a verve literária lhe seja tão prolifera e humanista.
Alzeli Bassetti, escritora e poeta
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