quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Histórias do Paraná - Seu Ribas

Histórias do Paraná - Seu Ribas

Seu Ribas
Lauro Grein Filho

Durante 13 anos, de 1932 a 1945, o Paraná foi governado pelo pontagrossense Manoel Ribas, a reinar soberano e único com os excepcionais poderes de um cargo e um regime que o tornavam senhor absoluto de todas as coisas.
Líder inato e inflexível, seu Ribas não limitava sua alçada aos problemas do governo, ampliando seu alcance sobre entidades e instituições, sociedades e organizações, clubes e fundações, tudo a evoluir segundo seus desejos, maneiras e critérios.
Ou não evoluíam.
Sem preocupação com o Legislativo ou Judiciário, contando com prefeitos de sua inteira confiança, escolha e nomeação, M.R. interferia, também nas administrações municipais, onde os titulares a nada se atreviam sem sua devida aquiescência e assentimento.
Ribas mandava por inteiro, no atacado e no varejo.
A imprensa, amordaçada pela ditadura, as rádios sob rígido controle e o DIP impondo o noticiário, mantinham e consolidavam uma estrutura impenetrável a quaisquer crítica e reparos, jamais ousados ou tolerados.
Com tal soma de poderes, é fácil imaginar o quanto S. Excia era festejado, cortejado, incensado. A sua presença os homens se perturbavam, se atemorizavam, calando as opiniões e apagando a personalidade.
Não tive idade nem credenciais para maiores diálogos com esse interventor polêmico e singular.
Mas como cronista de turfe no Guabirotuba (1940-1943) e no início de carreira em Castro (1945), locais onde sua presença era habitual, costumava curiosamente medi-lo e observá-lo. A ele e aos outros.
No velho hipódromo depois do Asilo, sua chegada lá pelas 4 da tarde representava o acontecimento máximo da reunião, alternando em instantes todo o desenrolar do programa.
Os páreos e os cavalos eram, imediatamente relegados a um segundo plano, minimizados pelas reverências ao Interventor, alvo maior dos aficcionados a disputar proximidades e achegos, na tribuna de honra.
E, nessas horas, S. Excia.
Parecia acessível e até amável, ao embalo das vitórias do Com Ochos, seu brioso cavalo mouro, filho de Contento em Paca, ou do castanho Cistil que corria em nome de Dona Anita.
O anedotário sobre Manoel Ribas, caracterizando-o no seu desapreço pelas formas convencionais, é imenso, variado e contraditório. A história o registra como um governador operoso, honrado e trabalhador.
Em sua gestão o Paraná cresceu sob múltiplos aspectos, desbravando o norte com a estrada do Cerne, desenvolvendo a agricultura e a pecuária, incentivando o parque industrial, atendendo a educação, a saúde e a assistência social.
Era proverbial o seu desvelo para com a infância.
Nesse afã criou o "Preventório Infantil Manoel Ribas", destinado a filhos de tuberculosos, estabelecimento que dirigi de 1945 a 1960. Ao assumir, a irmã Madalena, superiora, me preveniu sobre uma norma da Casa determinada pessoalmente pelo Interventor: - "Toda a criança que aqui chegar sem registro ou identificação, deverá receber meu sobrenome - Ribas" Havia muitos Ribas no Preventório.
De seus auxiliares e assessores exigia o máximo, cobrando eventuais falhas com severas reprimendas e despachando-os com uma expressão clássica: - "vais te reabilitar". Em
1945, após deixar o governo, ainda participou da campanha e eleição de Eurico Gaspar Dutra em 2 de novembro, falecendo em princípio do ano seguinte, antes de completar 73 anos.
Manoel Ribas é uma biografia que não pode faltar nas estantes paranistas.
Sua vida, suas realizações, sua personalidade, tudo o que foi e representou em mais de uma década de poderio e ditadura, mesclam-se intimamente com a própria história paranaense.
Uma história que deve ser contada.

Lauro Grein Filho, médico e membro da Academia Paranaense de Letras


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