Histórias do Paraná - O guardião do casamento
O guardião do casamento
José Augusto Ribas Vedan
Conversando outro dia com o Procurador Túlio Vargas, emérito escritor paranaense, incentivou-me a contar o fato que passo a narrar.
Quando iniciante na advocacia, em Ibaiti, norte pioneiro do Estado, tinha escritório profissional com mais dois sócios.
Um dia, chegou um casal, cara virada, pouca conversa.
- Doutor, queremos nos separar, não dá mais.
- Tudo bem.
Vamos ver o que precisa.
Mas, antes, adverti-o, por dever profissional, das conseqüências de uma separação.
Trouxeram certidão de casamento? Tem filhos? Quantos? Bens?
- "Só os ‘tarecos’ de casa".
Riram.
Então vamos fazer a papelada!
Comecei a datilografar a petição, analisando documentos, coletando dados, número de filhos, pensão a ser fixada, como ia ser paga; guarda dos filhos e horário de visitas.
Estava definido! Não tinha
volta!
A porta ficara entreaberta e, repentinamente, entrou um cachorro, manso, ficou acomodado entre os pés do casal, que estava sentado à
frente da escrivaninha.
Levantei-me para tirá-lo dali.
O marido retrucou: - "E o Guarani, é meu!"
Ela, imediatamente, dobrando o tom da voz: - "Não, é meu!"
Estava armada a polêmica.
Todo o acordo foi por terra, pela disputa sobre quem seria o verdadeiro dono do Guarani.
Levantaram-se, afastaram-se um do outro, com olhares possessivos.
Pediram os documentos de volta e saíram discutindo a propriedade do Guarani.
Não tive conhecimento de que houvessem contratado outro advogado, também não os vi no Fórum, não fiquei sabendo se houvera a separação.
O Guarani, acidentalmente, salvou este casamento.
Passado algum tempo, encontrei o casal na rua.
Acompanhando-o estava o guardião daquele lar não desfeito, graças a sua oportuna "intervenção".
José Augusto Ribas Vedan, advogado
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