domingo, 16 de outubro de 2016

Histórias do Paraná - Cabeza de Vaca

Histórias do Paraná - Cabeza de Vaca

Cabeza de Vaca
Valêncio Xavier

Um dos primeiros homens brancos a pisar em território hoje paranaense, quarenta e um anos após o descobrimento do Brasil, foi o espanhol Alvar Cabeza de Vaca.
Antes dele, em 1520, o náufrago português Aleixo Garcia e o também português Pero Lobo passaram pelas nossas terras.
Ambos foram trucidados pelos índios.
Cabeza de Vaca escreveu um precioso relato sobre suas andanças e sobre os índios que aqui habitavam. A rota utilizada foi o milenar caminho de Peabiru — na língua indígena "caminho cujo percurso se iniciou"- utilizado pelos índios ligando o litoral brasileiro com o Peru.
Cabeza de Vaca foi nomeado Governador da Capitania do Prata pelo Rei da Espanha, com a missão de socorrer os habitantes de Buenos Aires e Assunção que passavam por dificuldades.
Pagou 8.000 ducados pela nomeação, em troca receberia 12 avos da renda da capitania.
Com duas naus, uma caravela, quatrocentos soldados e vinte e seis cavalos, Cabeza de Vaca desembarcou na Ilha de Santa Catarina, em março de 1541. Mandou parte de seus homens por mar para Buenos Aires e, em outubro, com duzentos e cinqüenta soldados, vinte e seis cavalos e "abrindo caminho por terra trabalhosa e desabitada" seguiu para o Paraguai pela rota de Peabiru.
Encontra os primitivos habitantes do Paraná "índios que comem carne humana tanto de índios seus inimigos, de cristãos, ou de seus próprios companheiros de tribo. São gente amiga, mas muito guerreira e vingativa." Cabeza de Vaca conta que os índios traziam o inimigo capturado para a aldeia, davam-lhe muita comida e lhe entregavam suas mulheres, tudo em meio a muita festa.
Quando já estava gordinho levavam-no para a praça paramentado com plumas - ainda não havia paetês -matavam-no num carnaval de sangue e faziam um belo churrasco que comiam com muito gosto.
Cabeza de Vaca punia seus homens que tratassem mal os índios e abusassem das índias.
Sua fama espalha-se e os índios ajudavam os espanhóis.
Além disso, os índios nunca tinham visto cavalos e tinham medo, por isso tratavam bem seus donos trazendo mantimentos.
Tanto que os dois padres da expedição resolveram ir na frente pegando a bóia para comer escondido.
Cabeza de Vaca deu um fim nos padrecos.
Cabeza de Vaca impressiona-se com nossos pinheiros: "tão grandes que quatro homens não podiam abraçar". Conta que os índios apreciavam muito a farinha do pinhão — alimento esquecido por nós.
Encan-tava-se com a algazarra dos macacos, que confundia com gatos subindo nos pinheiros, catando pinhão e jogando no chão para comer depois.
Sem poder subir, os espertos porcos do mato ficavam na sombra esperando os pinhõezinhos grátis.
Com muita dificuldade, abrindo caminho na selva, enfrentando tribos hostis e feras selvagens em seu caminho para Assunção, Cabeza de Vaca é o primeiro homem branco a contemplar a foz do Iguaçu.
Seu primeiro ato como governador ao chegar a Assunção é proibir a escravidão dos índios.
Ninguém gosta muito da idéia e logo que podem os espanhóis dão o golpe e prendem Cabeza de Vaca.
Escrevem ao Rei inventando mentiras e intrigas, Cabeza de Vaca é levado acorrentado à Espanha para responder um processo, do qual só se livrará anos depois.
Revoltados com o retorno da escravidão, os índios rebelam-se numa luta que durou três anos e quase acabou com Assunção, mas isso já é outra conversa.

Valêncio Xavier, escritor e historiador


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