terça-feira, 4 de outubro de 2016

Histórias do Paraná - Dona Itália

Histórias do Paraná - Dona Itália

Dona Itália
Maria de Fátima S. Moraes

Casara-se muito mocinha pela primeira vez, com apenas treze anos.
Aos quatorze já era mãe, foi com o marido de Curitiba para Paulo Frontin, onde viveu até sua morte em 1960. Aos vinte e seis encontrava-se viúva, com cinco filhos pequenos, o sexto na barriga.
Voltou a casar-se algum tempo depois, tendo ainda mais três filhos com o segundo marido.
Nesse tempo todo, a família se tornara muito próspera, abastada.
Dona Itália enviuvou novamente.
Com cento e doze quilos, sua alegria contagiante e seu coração generoso, recebia o pessoal humilde com a mesma hospitalidade que acolhia os ricos e tradicionais parentes e amigos que vinham de Curitiba para visitá-la.
Isto lhe valeu inúmeros afilhados espalhados pela cidade e arredores.
Quando alguém ficava doente e não tinha condução, corria-se até a casa da gentil senhora, onde ela mesma providenciava um de seus caminhões com um dos filhos de motorista, garantindo assim o médico e o hospital ao paciente na cidade de Marechal Mallet, e olhem que naquela época a estrada para se chegar lá não era brincadeira.
Mas vamos ao que interessa.
Em sua mesa sempre farta, nunca faltava comida para quem chegasse de surpresa na hora das refeições, fossem genros, noras, netos, afilhados, até mesmo compadres e comadres que vinham das redondezas fazer compras na cidade.
Certo dia, chega de Santana, lugarejo próximo, o compadre Honório.
Caboclo simples, baixinho, gordo e quase surdo, apeia do burro, atrela-o num poste em frente da casa e bate na porta da cozinha com a intenção de ganhar o almoço.
Dona Itália o recebe, convida-o a entrar, dizendo:
- "Olha, compadre, o senhor chegou atrasado, todos já almoçaram, mas comida é o que não falta nesta casa.
Chegue até a mesa que vou providenciar que lhe aqueçam o que restou."
O homem se acomodou.
Com tudo quentinho à sua frente, serviu-se à vontade.
No entanto, à beirada da mesa, que era bem grande, ficara esquecida uma tijela com calda grossa, parecendo gordura derretida, da qual o compadre se sentiu fartamente, encharcando toda sua comida.
A velha senhora, quando notou tal coisa, se deu conta que era calda dos pêssegos que havia servido de sobremesa.
Matreira, contendo o riso, esperou o caboclo servir-se mais vezes e, quando o mesmo deu-se por satisfeito, chegou próximo ao seu ouvido e perguntou bem alto:
- "E então, compadre, a comida estava boa?"
Obteve então a resposta.
- "A comida tava muito das boa sim, senhora comadre, só que tava um bocadinho doce".

Maria de Fátima S. Moraes, Bacharel em Ciências Contáveis, é diretora de creche em Curitiba


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