Histórias do Paraná - O Gol de Placa de Zequinha
O Gol de Placa de Zequinha
Odmir P. C. Valsecchi
Quem me contou esta historinha foi um velho amigo, Salvador de Cristo, já falecido, que por muitos anos pertenceu à diretoria do Ferroviário.
Contava ele, que lá por volta de 1930 e poucos, o Ferroviário tinha um ponta direita chamado Zequinha, um craque, dono de um chute forte e certeiro.
Na véspera de um jogo Atlético X Ferroviário, Zequinha ia indo para o serviço — era telegrafista da Rede - quando encontrou um grupo de atleticanos que bebericava um chope, numa churrascaria, liderados pelo lendário goleiro Caju, que atuou na seleção brasileira: "Zequinha, se você marcar um gol amanhã eu pago toda a sua despesa aqui na churrascaria, pode comer e beber a vontade."
Em que pese ser o artilheiro do campeonato, Zequinha era pessoa muito humilde.
Balançou a cabeça numa aquiescência que tinha entendido e continuou andando, para não chegar atrasado ao serviço.
No dia seguinte, domingo, o campo do Atlético na baixada estava lotado.
Hoje tristemente apelidado de "Chiqueirinho", o Estádio da Baixada era o melhor da cidade, nessa época em que ainda não existiam o Dorival de Brito e o Couto Pereira.
Bem, o campo cheio, começou o jogo, a bola sendo batida sem dó. Espirrada, prensada, ninguém queria sua amizade, logo lhe davam uma bordoada.
Ela, disciplinadamente, seguia o curso que os pés dos atletas lhe impunham, sem vontade própria, sempre obedecendo o mais forte, o mais ágil, o mais habilidoso.
Acabou-se o primeiro tempo num jogo duro e suado.
Inicia-se o segundo tempo, placar continuava de óculos, zero a zero, e assim foi até os 28 minutos, quando , numa escapada brilhante, como só o Zequinha sabia fazer, lá se foi o Ferroviário para o ataque.
Zequinha limpou a jogada e deu um chute como gostava.
Ninguém viu a trajetória da bola, tão violento foi o petardo.
Mas a bola não balançou a rede; também não foi para fora; para espanto geral, a bola simplesmente sumiu.
"Cadê a bola? Onde foi a bola?"
O próprio juiz, que se encontrava meio distante, ficou atônito.
Sem saber o que apitar, não apitou nada, e correu para o gol ver o que tinha acontecido. Aí notou que a bola estava presa no ângulo das traves horizontal/vertical.
Olhou de um lado olhou de outro e concluiu que a bola tinha passado a linha demarcatória fatal.
Era gol.
Assim sendo, determinou centro, para desencanto do famoso Caju e glória do humilde Zequinha.
Um dos gols mais curiosos da história do futebol paranaense.
Zequinha, aliás, era dado também a fazer gol de placa, literalmente.
Foi dele o primeiro gol marcado no Pacaembu, no jogo inaugural entre São Paulo e Coritiba, que levou emprestado o ponta direita Zequinha.
Os paulistas surraram os paranaenses de 4 a 1, mas não tiveram o gosto de inaugurar o placar.
Pela honraria, Zequinha ganhou uma medalha de ouro e placa no estádio.
Odmir P. C. Valsecchi, dentista em Jandaia do Sul
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