segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Histórias do Paraná - O delegado e o libidinoso

Histórias do Paraná - O delegado e o libidinoso

O delegado e o libidinoso
Luiz Carlos Vieira

Nos idos de 1950, o policiamento de Curitiba era comandado pela Central de Polícia, por muito tempo sediada na
rua Barão do Rio Branco, em frente ao atual Centro de Convenções de Curitiba.
Ela era atendida, em critério de rodízio, pelos delegados titulares dos diversos Distritos Policiais, cada qual dando ali um plantão de 24 horas, com direito a repouso nos momentos de folga, durante a madrugada.
Para tal, existia um pequeno apartamento, instalado na parte posterior das dependências.
Um determinado escrivão, aliás, era conhecido por carregar sempre uma curiosa e volumosa bagagem quando tirava plantão acompanhando seu delegado titular.
Dizia ele, no começo, se tratar de seu travesseiro predileto.
Alguns curiosos, porém, trataram de verificar e encontraram um prosaico penico esmaltado.
Parafraseando um certo cartão de crédito atual, diríamos que o escrivão não saía de casa sem ele.
Coisa de hábito, explicava.
Mas voltemos a nossa história.
Numa tarde encalorada de quarta-feira, quem dava plantão era o Dr. Pedro Darci de Souza, carinhosamente apelidado de Mamão
por todos os que acompanhavam o cortejo carnavalesco do Clube Thalia, onde também desempenhava o honroso e nobre encargo
de Rei Momo.
Pelo telefone 200 chega a informação de que, a poucas quadras dali, na praça Rui Barbosa, um afoito casal praticava atos
libidinosos, indiferente à presença dos escandalizados cidadãos que por ali passavam.
Nessa época, convém esclarecer, a praça Rui Barbosa era um aprazível logradouro público, com grande fonte luminosa
no centro e bancos para as pessoas sentarem.
Imediatamente, o Dr. Darci aciona uma equipe, composta por três guardas-civis, enviando-os ao local no chamado
carro-forte, um furgão utilizado no transporte dos transgressores da lei.
O libidinoso casal chega perante a autoridade, que se postava estrategicamente em pedestal, num plano mais alto
e ainda dividido por um balcão. O Dr. Darci interrompe o preparo de seu cigarro de palha e passa uma tremenda
descompostura no casal, ameaçando de mandar para o xadrez o homem e a mulher.
Em resposta, o varão escandaloso diz, peremptoriamente, com aquele sorrisinho nos lábios,
que não poderia ser mandado para o xadrez, porque era um oficial-militar.
O Dr. Darci pede que se identifique. O transgressor entrega a sua carteira de identidade, mais parecida com um caderno de notas.
Depois de examiná-la, o delegado a segura com uma das mãos, na outra manuseia um daqueles velhos isqueiros movido a gasolina.
Num repente, aciona o isqueiro, incinerando a carteira de identidade.
Enquanto deposita seus restos no cinzeiro, determina aos guardas civis:
- "Prendam o vagabundo, que acabou de dar baixa!"

Luiz Carlos Vieira, advogado


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