Histórias do Paraná - Dia da raça
Dia da raça
Luiz Spinato Ribeiro
Há meio século, a pequena Curitiba se encontrava nas esquinas.
Praticamente todos se conheciam e o tema, na época, obviamente era a
II Guerra que tinha "capturado" nossos pracinhas da FEB (Força Expedicionária Brasileira). Manoel Ribas - o Manéco Facão - governava o Estado com autoridade e austeridade. E neste país de tantos feriados, havia um, decifrável pelo regime vigente e ambíguo: enviara soldados para combater ao lado dos aliados, mas tinha cores internas ditatoriais.
Esse feriado era o "Dia da Raça", comemorado a 4 de setembro.
Nesse dia, desfiles cívicos tentaram confirmar a "brasilidade".
Em 4 de setembro de 1943 ou
1944, me falha a memória, quase dois mil alunos do Colégio Estadual do Paraná, quase todos de classe média remediada ou quase pobres, calças azuis e camisas brancas, fecharam o desfile do "Dia da Raça". Seguiam a brava rapaziada do Colégio Santa Maria, freqüentado pela então fina flor da sociedade curitibana, com seus uniformes semelhantes ao dos militares, quepes coloridos, polainas, botões dourados.
O desfile era notícia de primeira página nos jornais. E a "Gazeta" não perdoou.
Na linguagem dos repórteres, "deu um pau" no desfile do Colégio Estadual.
Ao chegar no colégio no dia seguinte, notei um revoltoso burburinho contra a "Gazeta do Povo". Resultado: decidiu-se pelo empastelamento do jornal, que funcionava na Rua XV, entre a Mosenhor Celso e a Marechal Floriano. O colégio inteiro reuniu-se na Praça Santos Andrade e, em marcha batida, rumou para a sede do jornal.
Na esquina da Monsenhor Celso com a Rua XV, a massa foi contida por um homem de cabelos brancos, voz forte e decidido, que berrou: - "Sigam-me!" Era o professor Francisco José Gomes Ribeiro que, liderou a massa de imberbes rumo ao Colégio Estadual, localizado na época na Rua Ébano Pereira — onde é hoje a Secretaria da Cultura.
Encerrou os alunos no auditório e passou um sonoro sabão nos "agitadores", lembrando que na democracia a liberdade de crítica, a liberdade de imprensa é fundamental.
Empastelar (fechar) um jornal é como rasgar a Constituição, apunhalar a cidadania. E estávamos sob a ditadura de Vargas.
O homem de cabelos brancos tinha sabedoria.
Durante mais de uma década dirigiu o Colégio Estadual.
Era meu pai.
Luiz Spinato Ribeiro, engenheiro
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