terça-feira, 26 de abril de 2016

Histórias do Paraná - Cultura e distensão

Histórias do Paraná - Cultura e distensão

Cultura e distensão
Ney Braga

Já me perguntaram se a minha situação como Ministro da Educação e Cultura, ao tempo do governo Geisel, fazia parte da estratégia de distensão gradual do presidente da República.
Acho que a abertura cultural do governo Geisel ajudou a distensão.
Mas não era estratégica.
Desde criança, na Lapa, convivi com artistas que passavam pela cidade. O cine-teatro Elite, durante algum tempo, foi de meu saudoso pai.
Prefeito de Curitiba, organizei eventos como o festival de cinema e os festivais de música.
No governo do Estado, na primeira gestão, de 1960 a 1965, tive a satisfação de ver nascer o Teatro de Comédia do Paraná. Foi um grande momento do teatro Paranaense, com a presença de atores da qualidade de Nicete Bruno, Paulo Goulart e Cláudio Correa e Castro e de diretores como José Renato.
Ao lado de atores paranaenses como Laia Schneider e Ari Fontoura, eles transformaram o Teatro Guaíra — na época existia apenas o pequeno auditório - num pólo teatral do Brasil.
No MEC constatei que a cultura era tratada quase exclusivamente como uma atividade burocrática. A mudança de ótica deveu-se a pessoas que vieram trabalhar conosco.
Manoel Diegues Junior, pai do cineasta Cacá Diegues, assumiu o Departamento de Assuntos Culturais.
Roberto Parreira foi para o Programa e de Ação Cultural, na Funarte, criada na minha gestão.
Tivemos o diretor de cinema Roberto Farias na presidência da Embrafilme.
Orlando Miranda na direção do Serviço Nacional de Teatro. O escritor Herberto Salles na direção do Instituto Nacional do Livro.
Com esse grupo, a orientação imprescindível do grande presidente Ernesto Geisel e a ajuda de seus ministros, foi estabelecida uma política cultural muito democrática.
Quando os artistas tinham problemas com a censura vinham nos procurar e muitas vezes era encontrada uma solução.
Muitos artistas freqüentavam assiduamente o ministério. E, o mais importante, o ministro freqüentava assiduamente os teatros.
Um dia cumpri velho compromisso com a Lapa: consegui restaurar o Teatro São João, que faz parte da história da cultura paranaense.
Regina Duarte iluminou o palco como seu talento, na reinauguração.
A distensão do presidente Geisel funcionou muito bem na área cultural e contribuiu para o restabelecimento da democracia.
Isso seria apenas uma informação na memória.
Mas outro dia encontrei com a querida Fernanda Montenegro na Opera de Arame.
Ela me abraçou muito carinhosamente e disse:
- De tudo isso, Ney, devemos muito a você!
Mas eu me lembro que, para mim, muito disso começou com os espetáculos teatrais que encantaram um menino da Lapa e criaram, entre ele e o palco, uma relação de apaixonado enlevo.
Ney Braga, lapiano, foi prefeito de Curitiba, duas ve^esgovernador do Paraná e ministro de duas pastas.


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