sexta-feira, 15 de abril de 2016

Histórias do Paraná - O poeta vidente

Histórias do Paraná - O poeta vidente

O poeta vidente
Wilson Bóia

Manoel Ribas comandaria os destinos de nosso Estado durante quase catorze anos seguidos.
De 1932 a 1945, ora como Governador, ora como Interventor, marcaria com suas atitudes imprevisíveis e irreverentes, com sua maneira peculiar de agir e de pensar, com seu temperamento arrebatador e explosivo, com seus momentos repentinos de irreflexão, a história política e administrativa do Paraná.
A sua índole democrática, a sua atenção voltada para com os humildes, chegando a mandar para a casa dos menos favorecidos da sorte não só alimentos como roupas e remédios, tratando a todos sem distinção de cor ou de categoria social, pronto a reconciliar-se publicamente com os seus adversários que antes combatera, dono de uma franqueza que por vezes atingia as raias da chavasquice, ora ^íegre, ora intratável, sua conduta confundia os próprios amigos e desnorteava os seus opositores.
Detestava a pusilanimidade, admirava os fortes e corajosos.
Como Interventor Federal e como Chefe do Partido Social Democrático teve erros e acertos.
No Palácio São Francisco viveu, mandou e desmandou.
Não gostava de cerimônias nem de aparatos.
Nada de protocolos.
Pois atendia aos que o procuravam a qualquer hora do cfia ou da noite e quando viajava, ia sempre ao lado do motorista.
Afinal, ninguém lhe era indiferente.
Ou admiração ou antipatia.
Mas vivia por aqui, morando em São José dos Pinhais, um poeta e dos bons, gaúcho de Alegrete, jornalista combativo, poeta ferino, boêmio incorrigível, o Barros Cassai, sempre a atacar com seus sonetos de fina ironia, pelas colunas do Diário do Paraná, o nosso pontagrossense maior. A seção intitulava-se ‘Violino do Diabo" e o autor se escondia sob o pseudônimo de Jacó Pim-Pim.
Sabia-se que Manuel Ribas andava seriamente adoentado e que se mandara para a estância hidromineral mineira de Araxá à procura de melhoras para a sua saúde.
Melhoras que, infelizmente, não aconteceriam devido a seriedade do diagnóstico.
E como uma premonição, prevendo o poeta um desfecho trágico para Mané Facão, como era chamado o interventor, certo de que ele não voltaria nunca mais ao governo paranaense, publicava a 22 de janeiro de 1946 (reparem que Ribas faleceria às doze horas e quarenta minutos da segunda-feira de 28) este soneto de sabor satírico, nele nem escapando o Flores, o célebre Capitão Fernando Flores, chefe de Polícia:
"Eu acredito em tudo nesta vida, um gato ser depois jaguatirica, uma arame farpado ser comida, um mendigo virar em gente rica.
Creio que Deus é a única subida, que se cura pancada com arnica, porque, afinal, na mundanária lida, pode um couro de porco ser pelica...
Veja, caro leitor, como sou crente, Acredito que um chifre seja pente, Que a voz da consciência seja um eco;
acredito, afinal, até no Flores, num arco-íris com um bilhão de cores,
só não acredito na volta do Maneco!"

Wilson Bóia, Curitibano, é presidente da sociedade Brasileira de Escritores Médicos.


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