Histórias do Paraná - 300 loiras bem geladas e um garanhão quente
300 loiras bem geladas e um garanhão quente
Ivo Nalce
Thomas Plantagenet Bigg-Wither com esse nome todo era inglês — afinal ninguém tem culpa de ter nascido na Inglaterra, e também ninguém tem culpa de ter nascido no Paraná — e como todo inglês era meio chegadinho a uma cerveja bem gelada.
Bigg-Wither foi um engenheiro que veio ao Paraná em junho de 1972, contratado pela Paraná and Mato Grosso Survey Expedition, seja lá que diabo isso for, e ficou três anos aqui no Paraná, demarcando a Colônia Thereza.
Seu primeiro contato com a "Terra das Araucárias" foi em Antonina, onde desembarcou com outros engenheiros ingleses.
Foram todos se instalar com armas e bagagens no único hotel da cidade de propriedade de um Sr. Pascoal.
Bigg-Wither, no excelente livro que escreveu sobre suas experiências no Paraná, desconfia que a placa do hotel foi colocada quando eles chegaram e retirada quando eles se foram, talvez para economizar o letreiro exposto ao inclemente sol dos trópicos.
Bigg-Wither repara que as casas de Antonina, então com 1.200 habitantes, não tinham chaminés e a fumaça da cozinha saia pelo vão das telhas, talvez para poluir dentro de casa e não a natureza, e poucas janelas eram envidraçadas.
Durante os três dias que ficaram no hotel do Sr. Pascoal, tomaram várias cervejas inglesas Bass and Co. para combater o calor, afinal naquele tempo não existia Coca-Cola.
Mais tarde, no interior do Paraná, Bigg-Wither descobriu que muitas garrafas de cerveja inglesa, depois de consumidas, eram enchidas com cerveja nacional e vendidas como importadas, igualzinho como se faz com o uísqui hoje.
Quando iam sair do Hotel, o Sr. Pascoal, depois de horas calculando, apresentou a nota.
Bigg-Wither viu então que segundo a conta do hoteleiro eles tinham bebido 300 garrafas de cerveja em três dias, o que, convenhamos é meio muito.
Como não tinham conhecimento desse costume brasileiro de se somar até a data nas contas, Bigg-Wither pagou sem bufar e seguiu viagem...
Em Ponta Grossa, ficou na fazenda de um conterrâneo, Mr.
Edenborough.
Contou das cervejas e o Mister contou para ele como tratar com tratantes.
Edenborough, reparando que os cavalos brasileiros eram muito pequenos, importou um enorme puro-sangue inglês, o primeiro no Paraná, e meteu-o nas corridas de canchas retas, uma mania nacional na época. O cavalo inglês ganhou todas as corridas que participou, enchendo de grana seu compatriota fazendeiro.
Quando velho, abandonou o turfe, ajudou a enriquecer mais ainda seu proprietário, cobrindo as eguinhas brasileiras, para reprodução.
Assim, Mr. Edenborough se vingara das cervejas falsificadas que era obrigado a tomar.
Ivo Nalce é historiador.
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