quinta-feira, 21 de abril de 2016

Histórias do Paraná - Mãe Preta

Histórias do Paraná - Mãe Preta

Mãe Preta
George Roberto Washington Abrão

Negra de sorriso aberto, simpatia pingando dos olhos bondosos, do corpo obeso, roliço.
Idade? Pra que saber. "Negro quando pinta, três vezes trinta", diz o dito popular.
Ancas volumosas, fartos seios.
Seios que amamentaram quantos?Já perdera a conta. Mãe de leite, quando o leite faltava à mãe natural. Bênção Divina poder amamentar crianças alheias, poder dar força e sustento ao filho que passava a amar como seu.
Assim era a Bastiana que eu conheci emjaguariaíva, quando ainda era criança.
Sebastiana era o anjo da guarda da cidade! Festa, doença em família, velório, e a Bastiana estava lá tomando conta de tudo: da cozinha, ilos preparativos; animava ou consolava, dependendo da ocasião.
Sem esperar nada em troca, pelo desejo de servir, pela amizade, pela dedicação ao povo da sua terra!
Gostava de se divertir.
No fim da Rua Almeida Salim, próximo ao cemitério, havia um clube cujo nome eu nunca soube, pois iodos o chamavam de "Formigueiro". No clube não tinha luz, mas diversão tinha bastante, baile todo o fim de semana.
Lá a Bastiana reinava, dominava, mantinha a ordem e o respeito, pois tinha que haver respeito, senão o convite era para se retirar.
No carnaval, todos esperavam pelo bloco do clube, "Bloco da Bastiana", cujos componentes vinham vestidos de índios, com roupas feitas de "barba de bode" - parasita que pende das árvores - pés no chão e animados, tocando seus instrumentos rudimentares.
Sebastiana vinha na frente animando o grupo; recebendo os aplausos de seu povo, sua glória maior! Hoje, o clube e o bloco já não mais existem, só na lembrança dos que viveram na época ou em alguma foto perdida.
E a Sebastiana também há muito já vive no céu, onde deve passar o tempo todo embalando os anjos e encantando os santos com seu sorriso.
Seu povo não lhe ergueu um monumento, como os paulistanos à "Mãe Preta" no Largo do Paissandú, nem a homenageou com um mausoléu.
Hoje, peço licença a todos os jaguariaivenses para, em nome de todos, prestar homenagem à Bastiana, que deve viver sempre na memória dos que a conheceram e a estimaram. E, reverenciando uma, reverenciar todas as Bastianas deste nosso Paraná.
A sua bênção, Bastiana!

George Roberto Washington Abrão, nascido em Jaguariatva, é gerente de banco em Piraí do Sul.


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