Histórias do Paraná - O salto do Néco Maluco
O salto do Néco Maluco
Kit Abdala
Quando cheguei em Francisco Beltrão, em meados de 1959, o grande drama dos beltronenses era a viagem até Curitiba.
Quando o tempo estava bom levava-se dois dias de viagem.
Quando chovia, o tempo de viagem era totalmente imprevisível. A solução seria comprar um avião.
Fomos conhecer o aeroporto que na época era um simples caminho de roça.
Entrei em contato com o então prefeito Ângelo Comilotti e consegui uma motoniveladora.
Alargamos e balizamos a pista e em seguida construímos o primeiro hangar do Sudoeste do Paraná que ainda hoje é considerado o melhor da região.
Para inauguração da nova pista e do novo hangar resolvemos fazer a primeira festa aérea de Francisco Beltrão.
Comprei um avião Cessna 195, de seis lugares, e fui a São Paulo em busca de três pára-quedistas.
Conseguimos os mesmos e voltamos a Beltrão dois dias antes da tão esperada festa. A maioria da população de Francisco Beltrão e do Sudoeste do Paraná jamais havia visto um pára-quedista de perto.
Começamos a anunciar pela Rádio Col-méia que viria o famoso "Néco Maluco", cuja maior façanha era se atirar de pára-quedas a 1000 metros e
só abrir o mesmo a 100 metros do chão.
Ninguém acreditava no que era anunciado.
Levantamos vôo e saímos distribuindo folhetos a todas as vilas do Sudoeste.
Foi um verdadeiro sucesso.
Veio gente de todas as partes para assistir e conhecer o famoso saltador "Néco Maluco". Dois pára-quedistas saltaram antes, para delírio da platéia presente. O Néco Maluco, todo de branco, ficou cumprimentando a galera presente.
Todos ficaram encantados com a simpatia do Néco.
Chegou a hora do terrível salto. O avião, ao se dirigir para a pista com a porta aberta do lado direito, mostrava o Néco já de pára-quedas acenando a sua mão, principalmente para as belas e joviais representantes do sexo feminino, a quem ele já havia conquistado.
Um possante alto-falante foi instalado no campo de aviação, onde através de um microfone eu irradiava todos os movimentos para maior compreensão dos presentes.
No momento mais emocionante da festa, anunciei o salto do "Néco".
- Atenção pessoal, prestem muita atenção que o Néco vai realizar o salto mais espetacular do mundo !"
A população inteira ouviu o possante avião reduzir a sua potência e todos acompanharam o salto do Néco.
E o Néco vinha rodopiando e nada de abrir o pára-quedas e eu no microfone:
- "Não se assustem, o pára-quedas vai abrir só a 100 metros."
E o corpo vinha rodopiando, rodopiando, até se estatelar no potreiro vizinho ao aeroporto.
Foi um Deus no acuda!
O Dr. Arizone bateu na sua reluzente careca e disse: "estas festas nunca dão certo".
Um advogado presente chorava como uma criança
- "era meu amigo, como pode morrer assim..."
O povo saiu na corrida.
Pularam a cerca e trouxeram o corpo de um boneco, todo vestido de branco, que eu havia colocado de madrugada dentro do avião, que estava no hangar, sem ninguém perceber.
O Zambom, velho gringo de guerra, foi o primeiro a chegar perto do boneco.
Com aquele sotaque "Piemontês" de Caxias do Sul, ele disse: - "óia aqui Quito, quando eu pulei a cerca, rasguei a camisa de ir na missa aos domingos, quando eu cheguei lá e vi que era um boneco me deu vontade de matá o boneco..." A risada foi geral, e sem dúvida alguma esta passagem ficou na historia de Beltrão.
Kit Abdala, médico em Francisco Beltrão
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