Histórias do Paraná - A greve de 17 (II)
A greve de 17 (II)
Valêncio Xavier
Com a carestia, os anarquistas movimentam-se. A imprensa libertária paranaense "Terra Livre", "O Rebate", "A Revolta", criticam a situação.
Reuniões são feitas nas sociedades operárias, nas redações dos jornais anarquistas, e no cinema da Mal.
Floriano.
Octávio Prado fala com os operários nas portas das fábricas.
Em São Paulo, a greve estoura em julho e só termina no dia 19.
No dia 18 de julho, depois de vários comícios, os operários curitibanos declaram-se em greve. A comissão da greve formada por Octávio Prado, Adolpho Silveira e Bertoldo Scarmagnan apresenta as reivindicações dos grevistas.
Entre elas: jornada de 8 horas, impedimento de menores de 14 anos e mulheres com menos de 21 anos trabalharem; diária mínima de 5 mil réis, aviso prévio de 18 dias; redução do preço dos gêneros alimentícios e dos aluguéis de casa.
Já no primeiro dia, Curitiba, fica às escuras com a adesão dos foguistas da Usina Elétrica.Depois, a cidade fica sem água com os grevistas quebrando os encanamentos.
No segundo dia, fábricas e comércio fechados, estradas de ferro, linhas de bonde e todo transporte paralisado.
No terceiro dia, os grevistas atacam as carrocinhas dos colonos impedindo que alimentos cheguem à cidade. O Chefe de Polícia, Lindolpho Pessoa, intermedia o fim da greve com a Associação Comercial.
Os dois lados estão irredutíveis e a polícia parte para a luta.Os dias seguintes serão de confronto violento entre os grevistas e as forças policiais, apoiadas pelo exército.
Tiroteios, destruições de pontes pelos grevistas e ataques armados a estabelecimentos comerciais.
Bombas contra os bondes dirigidos e com boiados por soldados, os trilhos são arrancados, ou destruídos a bomba.
Apesar da adesão das telefonistas, fios são arrancados e postes são derrubados.
No sexto dia, apenas alguns tiroteios, mas a polícia e o exército já dominam a situação.
Começam as prisões em massa.
De Octávio Prado, a Polícia nunca mais deu notícias, apesar dos pedidos de David Carneiro, dono da Ervateira Americana, única indústria em que operários não entraram em greve, pois ela já cumpria as reivindicações grevistas, inclusive, pioneiramente no Brasil, dava carteira de trabalho aos seus empregados.
Apesar do sumiço que as forças policiais deram no grande pensador e ativista anarquista Octávio Prado, suas idéias libertárias e a luta que ele conduziu incomodaram os poderosos e trouxeram alguns resultados: já no dia 25 de julho, lei municipal regula o fechamento do comércio curitibano às sete da noite — reivindicação dos comerciários, pois as lojas fechavam tarde da noite.
Em 7 de agosto, o Prefeito cria o "pão dos pobres" — na verdade o mesmo pão com mistura só que menor, portanto mais barato.
Ainda em agosto, a Cruz Vermelha de Curitiba cria a primeira feira-livre da cidade, teoricamente destinada a vender alimentos a preços baixos.
Também em agosto, o deputado federal paranaense João Perneta apresenta pela primeira vez no legislativo brasileiro um projeto de lei que prevê jornada de oito horas, quinze dias de férias anuais para operários, salário de menor calculado em 1/3 do salário de adulto; e criação de tribunais arbitrais entre empregados e patrões - justiça do trabalho.
Nada disso foi aprovado.
Pra quê? Pra quê?, se a greve foi derrotada?
Valêncio Xavier, escritor e historiador
Fonte: 300 e Tantas Histórias do Paraná, Brasil.
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