Histórias do Paraná - O milagre
O milagre
Luiz Cláudio Mehl
Todos lamentamos o estado da saúde pública no Brasil. Há quem diga que os recursos são mal distribuídos, desviados para outras atividades ou que simplesmente não existem.
Falta de vontade política, recessão econômica, incompetência gerencial e corrupção são outras razões apontadas.
Enquanto isso, o descrédito se multiplica nas filas dos hospitais, e a saúde privada é privilégio de poucos que podem suportar os altos custos. E também verdade que este descrédito já foi maior.
Menos pela deficiência dos serviços do que pela sua absoluta inexistência.
Os médicos daqueles tempos eram tratados com desconfiança, não pelas consultas que não conseguiam cobrar, mas pela concorrência dos curandeiros e da medicina caseira.
Estes tempos foram vividos pelo "seu" Eduardo Sponholz, que já passeou por estas linhas.
Morador da então pequena vila de Imbituva nos anos cinqüenta, chefe político do velho PSD, foi advertido por diversas vezes pelo médico e prefeito local, o Dr. Nuna, sobre a necessidade de repetir um exame para avaliar a extensão de uma infecção urinária.
Homem cioso da sua masculinidade, "seu" Eduardo temia por um provável exame da próstata, que agradava a muito poucos homens, mas o médico continuava insistindo.
Cansado das suas próprias negativas, "seu" Eduardo chamou o neto de 11 anos de idade para seu quarto.
Prudentemente trancou a porta e ordenou ao menino:
- Faça xixi nesta garrafinha!
No primeiro ônibus a
garrafinha seguiu viagem para os exames em Ponta Grossa.
No dia seguinte, o laboratorista irrompeu na sala dos médicos.
- "Milagre!" — exclamou.
- "Um milagre!" — repetiu.
- "A urina do paciente parece a de um menino!"
Luiz Cláudio Mehl, engenheiro civil
Fonte: 300 e Tantas Histórias do Paraná, Brasil.
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