Histórias do Paraná - Carnaval é fogo
Carnaval é fogo
Tarás Schner
Fazer a cobertura jornalística do carnaval no finalzinho da década de 50 e início da de 60 em Curitiba era fogo.
Na madrugada de terça-feira, depois de três noites insones e muita "cuba-libre", os repórteres se reuniam no "Ópera-Rio" para a cobertura do concurso dos "enxutos", a grande sensação da época.
Os políticos também compareciam, devidamente acompanhados das esposas ou secretárias — obviamente mascaradas. E a troca de informações era obrigatória.
Foi então que surgiu a dica de que o grande lance estava ocorrendo em Paranaguá, com a inauguração de um ginásio de esportes, grandes bailes de carnaval com artistas de renome especialmente convidados.
Era imperioso ir a Paranaguá e às 7 da manhã estavam todos na estação ferroviária da rua João Negrão, embarcando para descer a serra. A tarde foi tomada pelas reportagens a serem publicadas "sem data" sobre a administração do Porto, o navio pirata afundado há dois séculos e uma sobre a Ilha das Cobras, que deixara de ser o terrível presídio de menores e passara a ter uma escola de pesca.
Mas à noite, devidamente acompanhados do prefeito, percorreram todos os bailes da cidade e acabaram no novo ginásio de esportes.
Mas, lá pelas quatro horas da madrugada e depois de muito uísque "made in porto de Paranaguá", eles se descobriram abandonados numa praça central, sem terem onde dormir porque os hotéis estavam lotados. O Domingos Faria de Mello,
o popular "Cem Gramas", sabia dum hotelzinho barra-pesada perto do mercado. O Rafles Pereira de Oliveira e o fotógrafo Portos Casella acharam que o lugar era muito perigoso e decidiram esperar o dia clarear no banco da praça mesmo.
Depois de muita argumentação e algumas ameaças de "escrache" na primeira página, a dona do hotel concordou em ceder o último quarto nos fundos do hotel.
Deu só para tirar os sapatos e se jogar na cama de roupa e tudo.
Mas o sono cataléptico e instantâneo que se seguiu ainda foi quebrado por gritos de mulher e sirenes de carros de polícia.
Apesar do forte calor, um deles cobriu a cabeça com o cobertor e resmungou: "E nisso que dá dormir em hotel de gigolôs e prostitutas. É sempre essa mesma bagunça".
Eram quase 11 horas quando acordaram. O chão estava molhado, como se tivessem deixado uma torneira aberta.
Saíram do quarto dispostos a brigar porque não tinham sido acordados cedo e exigiriam pelo menos uma xícara de café. Ao descerem a escada, um velho sentado numa cadeira, os olhava intrigado.
- O que vocês estão fazendo aqui? Perguntou ele.
- Como o que estamos fazendo aqui? Dormimos aqui e queremos tomar o nosso café — disseram eles.
- Não pode - retrucou o velho, explicando que o hotel tinha pegado fogo e fora todo destruído pelo incêndio, que foi um dos maiores da cidade.
Só então é que os repórteres notaram que a parte da frente simplesmente havia desaparecido e curiosos se aglomeravam diante dos monturos de tijolos e carvão de madeira ainda fumegantes.
Andar pelas ruas de Paranaguá, depois, foi outro sufoco: todos queriam abraçar ou tocar nos repórteres de Curitiba que sobreviveram ao "inferno de fogo", para dar sorte...
Tarás Schner, jornalista
Fonte: 300 e Tantas Histórias do Paraná, Brasil.
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