sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Histórias do Paraná - Jeitão paranaense

Histórias do Paraná - Jeitão paranaense

Jeitão paranaense
Oney Barbosa Borba

O francês Simon Eclache se encontrava na cidade de Castro quando os paulistas empunharam as armas contra a ditadura de Getúlio Vargas, em Julho de 1932. O francês residia em Cachoeirinha, hoje Arapoti.
Queira voltar para sua casa, mas os trens somente funcionavam para a guerra contra os paulistas.
Os poucos caminhões e carros haviam sido requisitados.
Sem condução para o levar, ele resolveu ir a pé mesmo.
Com a malinha nas costas, ao se aproximar de Piraí foi detido por um major da coluna comandada pelo Generaljoão Francisco.
João Francisco, coronel de galpão, comissionado no posto de general das tropas defensoras da ditadura, era riograndense da fronteira, conhecido pelo apelido de "tigre do Caverá". Diziam ser atrabilário, malvado e violento.
Os "guascas" da fronteira ao se despedirem diziam assim: "chegarei hoje mesmo lá, se Deus quiser, João Francisco e sua mulher..." Pelo casamento, até a mulher se transmudava em tigrona...
Simon Eclache foi recambiado no dia 29 de julho e entregue a Durval Marins, delegado de polícia de Castro, "para o fim de averiguar minha identidade e meus propósitos", como contou ele, posteriormente, em carta dirigida ao jornal da terra. O francês estava deveras apavorado com a exibição jactanciosa de seus captores.
Ele não conhecia esta gente.
Durval Marins teve que explicar-lhe que havia rompido um movimento rebelde em São Paulo e que as forças do governo ditatorial de Vargas cercaram as fronteiras paulistas, cortando as comunicações, para aguardar a rendição dos rebeldes.
Era uma questão de tempo. E ele, Simon, devia aguardar na delegacia que a poeira da guerra baixasse.
Naturalmente, os bombachudos não gostaram de ouvir o sotaque anasalado de Simon e implicaram com ele.
Era bom evitar contato com essa gente que andava armada e gostava de exibir-se no poder.
Antes de voltar para sua residência Simon endereçou carta sobre sua estada em Castro.
"A fidalguia e solicitude do preclaro Sr. Durval Marins, as bondosas atenções de todos os membros da Guarda Municipal, e a própria hospitalidade do carcereiro, digo-o em toda sinceridade e não por vã retórica, muito me penhoraram para com a cidade de Castro, que desta insólita maneira vim a conhecer."
"Desfeitas como bolhas de sabão as dúvidas que sobre mim pairavam, foi com real prazer que readquiri minha liberdade, que, aliás, apenas sofreu restrição muito relativa, pois fora-me poupado o vexame de ser hospedado numa cela."
"Como cidadão francês e homem educado, devo meus agradecimentos às autoridades e ao povo de Castro, e, de modo particular ao Sr Alfredo Gueniat e exma.
Sra. À cidade de Castro tão linda no quadro, tipicamente paranaense em que se acha engastada, desejo testemunhar meu reconhecimento. (a) Simon Eclache".
Paranaense é ser assim: cordial e cavalheiresco, principalmente com os estranhos, porque faz questão de ser e parecer bom.

Oney Barbosa Borba, escritor, residente em Castro

Fonte: 300 e Tantas Histórias do Paraná, Brasil.

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