Histórias de Curitiba - Um repórter Jubiluca
Um repórter Jubiluca
Valêncio Xavier
Começa que ninguém, ninguém jamais nesta cidade de Curitiba ou em qualquer outra cidade do planeta sabe dizer o porquê
do apelido Galo.
O Repórter Galo tinha por sobrenome Bagio, de tradicional família curitibana.
Seu nome próprio é outro mistério: quase ninguém pode lembrar, muito menos eu.
Era repórter policial com seus dias de glória nos anos cinqüenta e sessenta.
Trabalhou no rádio e depois em jornais, desde o falecido DIA até na GAZETA DO POVO.
Repórter daqueles bons tempos queria dizer repórter, palavra que vem do francês, que traduzida quer dizer reportar, que em português traduzido quer dizer transportar, que quer dizer trazer alguma coisa de algum lugar, que quer dizer que o repórter naqueles bons tempos trazia a notícia, diferente de hoje que a notícia traz o repórter.
Entendeu alguma coisa?
Naqueles tempos em que não tinha seqüestro, meninos de rua, tráfico de drogas, superfatura-mento, ministros sinistros, nem existia ainda a República de Alagoas, os crimes eram muito mais amenos: maridos que matavam a mulher, ou vice-versa, conto do vigário, roubo de galinhas e etc.
O repórter tinha de ir atrás da notícia, xeretar nas delegacias, voltar para a redação, contar a notícia para o redator que, como o nome está dizendo, redigia a notícia, o repórter não redigia nada só reportava e o repórter Galo era especialista em reportar.
Então aconteceu o terrível Crime da Vossoroca, mataram um chofer de praça que é como chamavam então os motoristas de táxi, maior mistério.
Mataram e jogaram o corpo na represa de Vossoroca e roubaram o carro, isso numa época que não era moda roubar carros, o máximo que se roubava era bicicleta e a Loja do Pedro nem existia.
O crime agitou a cidade que só sossegou quando os criminosos, um casal, foram presos em Florianópolis e a polícia daqui foi buscá-los, o Galo junto.
Ninguém sabia como e porque fora cometido o crime, o suspense era esperar o Galo voltar com a notícia e o jornal publicar -não esqueça que não tinha nem televisão nem satélite, uma ligação interurbana demorava horas e nem a estrada até Florianópolis era asfaltada.
Ficou todo mundo no jornal esperando o Galo chegar e cantar a história para o redator redigir a notícia e se imprimir a esperada edição. Lá pela meia-noite chega o Galo já bem torrado e conta o crime. O que ninguém contava é que o Galo cantava tudo num linguajar que só ele entendia, que nem o Chain hoje em dia, e ele contou: O jubiluco mais a jubiluca tomaram o jubiluco e na jubiluca deram três jubi-lacadas no jubiluca e pegaram toda jubiluca dele e mais o jubiluca e se mandaram para Jubiluca, antes jogaram o jubiluca na jubiluca.
Você jubilucou alguma coisa? Nem eu.
Valêncio Xavier é reporter e produtor de TV
Fonte: 300 e Tantas Histórias do Paraná, Brasil.
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