Histórias do Paraná - Prestes em Renascença (I)
Prestes em Renascença (I)
Darcy Antônio Pacce
Com o movimento tenentista, a jovem oficialidade brasileira desejava mudanças políticas e colocar fim aos desmandos das oligarquias.
Ela culminou com a chamada "Coluna Prestes", uma tropa com até 1.600 homens que, sob comando do legendário Luís Carlos Prestes e de jovens oficiais, durante três anos percorreu dezenas de milhares de quilômetros do território nacional numa espécie de Grande Marcha, até se exilar na Bolívia, em 1927.
Em sua passagem pelo Sudoeste do Paraná, vinda do sul, em 1924, a Coluna Prestes esteve em nosso município, Renascença.
Pre-parava-se, então, para atacar Clevelândia, o que foi feito sob o comando de João Alberto e do coronel Fidêncio.
Eles contavam com 250 homens.
Prestes aguardava o resultado dessa ação para atacar Laranjeiras do Sul com outros 200 homens.
Em Clevelândia, esperavam os revoltosos capturar armas, munições e sobretudo mais adesões de voluntários.
Para conter o avanço da coluna foi mobilizada a Guarda Nacional, composta por pessoas da própria região, quase todos pequenos agricultores, nenhum soldado profissional. A coluna, por sua vez, também se abasteceu na região de "voluntários", muitos na marra.
Na localidade de Santana foi formado um corpo da Guarda sob comando do capitão comissionado José Carlos de Oliveira, de profissão cartorário.
Os recrutas vinham com seus cavalos.
Do governo recebiam o armamento, a munição (contada e vigiada), farda, botina, polaina, etc.
Uma madrugada, Prestes atacou de surpresa um grupo de trinta homens da Guarda que, despreocupados, festavam, tocando gaita e violão. O saldo foi um sargento, um cabo e quatro soldados mortos.
Foi então convocada a companhia do Santana, com 120 homens, acampada na localidade de Campo da Vargem.
O problema é que ninguém queria ir à luta, segundo o depoimento oral de um dos engajados, Antônio Nunes de Freitas. O "capitão" José Carlos de Oliveira mandou a tropa perfilar, fez um tocante discurso e convocou os voluntários a dar um passo à frente. Só dois o fizeram.
Acontece que, nas instruções, eles não haviam disparado um único tiro. "A quem faltasse uma bala no cinturão eram cobrados 1.500 réis", conta Antônio Nunes de Freitas.
Ele chegou a sugerir ao "capitão" que melhor seria atacar os revoltosos a coronhadas, já que ninguém havia disparado uma única vez os mosquetões, nem sabiam se os mesmos pegavam fogo. O "capitão" preferiu dispensar a tropa.
Mas não foi só a força legalista que teve problemas com os soldados improvisados.
Os revoltosos também.
Quando eles acamparam em Campo Erê, Prestes enviou piquetes em várias direções para convocar os homens a lutar a seu lado. A maioria fugia à simples aproximação dos revolucionários.
Outros foram ver do que se tratava, mas quando sabiam que era para participar das lutas arrumavam uma desculpa e não voltavam.
Houve alguns voluntários atraídos, quem sabe, pela oferta de carne, charque e fumo à vontade no acampamento, outros foram levados meio na marra.
Horácio Mariano da Silva, que estava entre os revoltosos, nos relatou que um sujeito apresen-tou-se a Prestes, montado numa eguinha vermelha, e explicou não poder ir lutar porque tinha uma bola na barriga, era rendido, e erguendo a camisa, mostrou o abcesso. "Para isso tem remédio", lhe respondeu um tenente. "No primeiro tiroteio, passa uma bala aí e já está curado."
Foi na marra. Ele e sua eguinha velha.
Darcy Antônio Pacce, professor de história em Renascença
Fonte: 300 e Tantas Histórias do Paraná, Brasil.
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