sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Histórias do Paraná - O valor de um nome

Histórias do Paraná - O valor de um nome

O valor de um nome
Daniel Weber

Lápela década de 1910, a política era na base de Pica-pau x Maragato, o voto a descoberto na boca da urna.
Diziam os mais antigos que votava até defunto.
Aqui em Campo Largo, os chefes políticos eram o Coronel Cezar Torres e Manoel Afonso Guimarães, conhecido como "Nhô" Manéco Afonso.
Um de seus filhos foi chefe de polícia do Interventor Manoel Ribas.
Naqueles tempos não existia fogão elétrico, muito menos a gás.
Fogão era só na base da lenha picada.
Assim, para suprir a cidade existiam os lenheiros ou cortadores de lenha.
Entre ele, "Nhô" João Serrapau, um ex-escravo.
Esse sobrenome veio, obviamente, de sua profissão.
Sobre um cavalete, ele usava uma serra própria e assim abastecia as donas de casa.
Outro lenheiro era o João Carrinho, nome que lhe deram as donas de casa por ser entregador a domicílio da lenha picada.
Tanto ele como o João Serrapau de vez em quando bebiam algumas doses a mais da "milagrosa" e aí... viravam valentes.
Mas era só a pinga que falava, pois tratava-se de duas pessoas queridas na cidade devido a seus préstimos.
Por aqueles tempos, produzia-se em Campo Largo muita laranja caipira, limão e outras frutas.
Os donos dos laranjais, com suas carrocinhas, vendiam a produção em Curitiba, de porta em porta. "Nhô" João um dia pegou carona com um deles, que saiam da cidade à meia-noite, para no alvorecer já estarem vendendo em Curitiba.
Lá pelas 10 horas, depois de muito apregoar laranjas, "Nho" João entrou num boteco no bairro do Batei e ingeriu meia dúzia de "cangebrina". Daí virou valente Para seu azar, ia passando por ali um soldado da polícia que, diante do alvoroço chamou até reforço, pensando que era um dos violentos valentões da época. "Nhô" João foi levado para a Delegacia.
Naquele tempo o povo não costumava carregar documentos no bolso. O delegado pergunta o nome de "Nhô" João.
Este lembrou-se de seu chefe político e respondeu: "Manoel Afonso Guimarães". Os políticos, quando leram a notícia no jornal vespertino, armaram aquele corre-corre para a Delegacia.
Soltaram imediatamente "Nhô" João, que foi encontrar-se com o vendedor de laranja e trataram de voltar para Campo Largo.
A noticia da prisão de "Manoel Afonso Guimarães" naturalmente chegou nos ouvidos do verdadeiro Manoel Afonso Guimarães.
Levaram até jornal para ele cer-tificar-se.
Quem foi? Descobriram que foi "Nhô" João, imediatamente "convidado" a comparecer na casa do Sr. Guimarães, que prometia castigá-lo.
"Nhô" João compareceu ressabiado.
Mas antes de ser inquirido, foi logo dizendo:
- Sinhozinho, não se apo-quente.
Mecê tem um prestígio tremendo na Capital.
Foi só dize o nome de mecê, fui posto em liberdade imediatamente...
Em lugar do prometido castigo, "Nhô" João recebeu um abraço e uma moeda de prata-patacão, como diziam — o valor de 2$000 (dois mil réis), o que era um bom dinheiro na época.

Daniel Weber, industrial aposentado em Campo Largo

Fonte: 300 e Tantas Histórias do Paraná, Brasil.

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