sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Histórias do Paraná - Gravata Borboleta

Histórias do Paraná - Gravata Borboleta

Gravata Borboleta
José Cadilhe de Oliveira

Conheci um tipo interessante e admirável.
Sua alcunha, Tonico Madruga, que por sí só, nos dá um painel do seu feitio.
Notívago por excelência foi, por muito tempo, um dos donos da madrugada curitibana.
Exímio jogador de futebol fez furor no juvenil do Juventus, chegando, inclusive, ao selecionado estadual da categoria.
Mas, para o treinador e dirigentes do Clube, sempre foi tormento, principalmente em véspera de jogos.
Todo mundo era escalado para cuidar dos passos do Tonico para que no jogo estivesse ele em condições físicas razoáveis.
Nem sempre deu certo esse cuidado.
Muitas vezes ele chegou a levar seu guarda-costas para a madruga, para a gandaia...
Levou, assim, muito tempo de sua juventude.
Tonico Madruga foi igualmente, um exímio percursionista.
Imbatível no tamborim.
Desfilou, invariavelmente, nos Embaixadores da Alegria, Escola de Samba que freqüentou anos seguidos.
No Carnaval de 1958, lá estava Tonico Madruga envergando sua vistosa fantasia que, naquele ano, por versar os dez anos da Escola — fundada em 1948
- foi de Embaixador.
Ricamente confeccionada em alfaiataria, se constituiu de casaca, calça e cartola de cor azul, com camisa branca onde, no peito, se divisava um faixa transversal em vermelho, além de belíssima gravatinha borboleta em azul e luvas brancas.
Finda a primeira noitada carnavalesca de um sábado, já dia claro, Tonico retornou para casa.
Infelizmente, foi surpreendido com a noticia do falecimento de seu avô que residia na mesma moradia. O corpo já se achava no esquife montado na sala.
Foi um Deus nos acuda para esconder o Tonico, ainda fantasiado, dos presentes ao velório que se iniciava.
No dia seguinte, domingo de Carnaval, logo após o sepultamen-to, Tonico Madruga, de modo surpreendente, surgiu nos Embaixadores devidamente fantasiado para desfiar e compartilhar dos festejos momescos.
Ninguém queria acreditar que, tendo enterrado o avô poucas horas antes, lá estivesse o moço para prosseguir na pandega carnavalesca.
Quando foi perguntado se não seria melhor ele deixar de desfilar face a morte do avô, saiu-se com esta:
- Você não reparou? Estou de luto.
Veja que a gravatinha borboleta da fantasia é azul e eu estou de
gravatinha preta."
Era verdade e Tonico, mais uma vez, honrou sua condição de notívago e carnavalesco de primeira linha.

José Cadilhe de Oliveira, advogado


Fonte: 300 e Tantas Histórias do Paraná, Brasil.

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