sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Histórias do Paraná - Violeta

Histórias do Paraná - Violeta

Violeta
Arthur Virmond de Supplicy de Lacerda

Violeta Amaral foi uma das figuras mais queridas de minha infância.
Curitibana de antiga cepa, foi Violeta abandonada no altar doméstico pelo noivo, rapaz abastado de sobrenome Cerjat, porque seu genitor ameaçou deserdá-lo se a des-posasse, ela filha de um simples dentista, profissão pouco enriquecedora porém nada desonrosa.
Envergonhado com a desdita da filha, o pai de Violeta, José Gomes do Amaral Júnior (filho de um médico maragato durante o cerco da Lapa), preferiu evitar o ambiente em que se tornara o fato notório, radicando-se em São Paulo, capital.
Residindo já naquela cidade, um acaso viria alterar o perfil biográfico de Violeta, enriquecendo-o com o primeiro matrimônio que contraiu: certa feita acudiu ela um menino, ferido levemente em atropelamento por automóvel ou bicicleta.
Sensibilizado, o pai da criança foi agradecer-lhe a solicitude.
Do relacionamento assim inaugurado resultou pouco depois Violeta passar a chamar-se Violeta do Amaral Pereira, mais moça que o marido cerca de duas décadas.
Delegado de Polícia de Santos, e Chefe de Polícia do Estado de São Paulo, João Clímaco Pereira, o marido, era viúvo, condição em que deixou sua esposa oito ou dez anos depois.
Ora, antes do frustrado noivado, fora Violeta namorada daquele que por ela se havendo encantado uma vez, jamais dela se esqueceu, mesmo durante seu efêmero consórcio.
O enamorado era filho de um lapeano picapau, cônsul honorário da Espanha em 1922 e hervateiro abastado, Joaquim da Silva Sampaio.
Chamava-se ele Edgard Chalbaud Sampaio.
Era tal a paixão de Edgard por Violeta que, quando a perdeu para seu rival paulista, desarvorou-se da vida.
Entregou-se a uma abundante melancolia, a roupa em desalinho, o cabelo por cortar, a barba por fazer, vagando pelas ruas da cidade.
Inapetente, evitava comer e beber e fumava muito.
Inesperado e surpreendente, sorriu-lhe o destino, oferecendo-lhe uma possibilidade com o óbito de João Clímaco.
Edgar reanimou-se.
Durante o primeiro ano de luto de Violeta, acalentou a esperança.
Vencido o interregno fúnebre, telefonou de Curitiba a Violeta a São Paulo, solicitando permissão para visitá-la.
Ao reencontrarem-se, avivou-se no coração de ambos o amor que em
Edgar jamais arrefecera e que em Violeta representou a base da felicidade de ambos de então por diante.
Pouco depois podia Edgard ufanar-se de ser um homem afortunado.
Recuperara seu amor pela vida, que novamente fazia-lhe sentido.
Violeta chamava-se, então, Violeta do Amaral Sampaio.
Habitaram várias casas, por derradeiro o número 2452 da Rua Brigadeiro Franco, onde conheci a biblioteca invejável de Edgard.
E depois? Depois Violeta perdeu Edgard em 1984. Novamente viúva, pranteava desolada o marido saudoso, homenagem dolorosa de quem o mantinha vivo em seu coração e em sua memória — afinal, os dois únicos lugares nos quais podemos aspirar à eternidade são o coração e a memória de quantos nos sobrevivem.
Finalmente, em 1991, entre perplexo e surpreso, soube que Violeta expirara deixando-nos viúvos de sua imensa bondade a quantos a conhecemos como Violeta e como esposa de Edgard...

Arthur Virmond de Supplicy de Lacerda, presidente do Centro Positivista do Paraná

Fonte: 300 e Tantas Histórias do Paraná, Brasil.

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