Histórias do Paraná - O tesouro da Fortaleza
O tesouro da Fortaleza
Luiz Romanguera Netto
A fazenda Fortaleza, hoje dividida em muitas outras fazendas, tem histórias contadas pelos seus antigos moradores que nos deixam perplexos.
Uma dessas divisões, a fazenda Três Meninas, fica no alto da chapada, de onde se descortina um dos panoramas mais bonitos do Paraná. Assim é que, para o seu lado sul, quase que em toda a extensão do horizonte, enxerga-se em primeiro plano a cidade de Tibagi e, em outra linha, o famoso "Canhão do Guartelá"; a leste, a serra das Fumas; ao norte, a cidade de Ventania; e, a oeste, a fazenda Monte Alegre, com seus intermináveis reflorestamentos. A vista alcança, em qualquer uma das direções, de 30 a 50 quilômetros.
E uma parte central do Estado, divisora entre o norte e o sul, onde poucas pessoas passam, a não ser aquelas que por lá vivem ou trabalham. Não é um lugar de passagem, se bem que a rodovia Transbrasiliana, já paga pelo governo federal (é o que dizem) e sem ter sido concluída, cruza o topo dessa chapada.
Nesse cenário maravilhoso, encontramos parte da história ainda por ser desvendada, de vez que até hoje, não se sabe o que aconteceu com o tesouro de José Félix da Silva, o senhor da Fortaleza.
Lá pelos idos do século XIX, mais ou menos em 1817, houve uma briga muito grande entre os índios que habitavam a região do Tibagi e os moradores da fazenda, saindo perdedores - é claro - os primeiros, ficando em uma restinga de campo para mais de cem mortos. O local, hoje denominado de "mortandade", ostenta muitas ossadas que, ocasionalmente, são desenterradas pelos tratores, em permanente trabalho de aração de terra.
Contam as histórias que José Félix, depois dessa investida e ainda mais por problemas pessoais com sua esposa Onistarda, que por diversas vezes tentara matá-lo, resolveu esconder o seu tesouro, reservando para mais tarde contar o local em que o enterrara.
Assim foi que um dia mandou seus capatazes, com uns peões e alguns escravos, fazer o rodeio do gado na Fazenda de Monte Alegre, afastando quase todos da sede da Fortaleza.
Chamou um escravo de confiança e com ele colocou as bruacas (mala de couro) em cima da mula, enchendo-as com seus have-res de maior valor.
Ali colocou as barras de ouro, os diamantes, as pratas e as moedas, produto da venda de muitas mulas e gado, além de algumas alfaias.
Pegou seu cavalo e ferramentas de sapa e, com o escravo, saiu ao raiar da manhã, indo até um lugar onde havia um ribeirão.
Ai chegando, desviou-o de seu curso e enterrou as bruacas no seu leito, para depois retorná-lo ao curso normal.
Naquela cova não ficara só o tesouro.
Ficaram também o escravo e a mula, mortos a faca.
Manoel Ignácio , seu neto, a quem iria contar o local onde ficara enterrado o tesouro, só ficou sabendo parte do acontecido, pois era muito jovem e a mulher de José Felix conseguira seu intento de envenenar o marido antes que este confidenciasse toda a história ao menino.
Assim foi que o segredo morreu com ele.
Até hoje, seguidamente aparecem pessoas que sonharam ou tiveram avisos e dizem saber onde ele está. Por falta de procurar é que ele ainda não foi encontrado.
Se um dia será encontrado não sei, mas que está bem guardado isso está, ainda mais com o fantasma do escravo a lhe proteger, duvido que tão cedo remexam em sua cova.
Luiz Romaguera Neto, membro do Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico do Paraná
Fonte: 300 e Tantas Histórias do Paraná, Brasil.
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