Histórias do Paraná - O gosto é o regalo da vida
O gosto é o regalo da vida
Maria de Fátima S. Moraes
Cidade de Paulo Frontin, transcorria o ano de 1949. Miguel Scaramella recebe de herança um caminhão antigo, marca Ford 1929, que mandou para conserto logo que o recebeu.
De passagem pela oficina mecânica, um senhor, proprietário de açougue em Dorizon, cidade vizinha, descobriu o fordeco e se tomou de amores por ele.
Foi procurar o proprietário, mas Miguel não tinha a mínima intenção de vendê-lo a preço nenhum.
Mas, o comprador foi tão insistente que, para se ver livre Scaramella fez preço: 35 contos de réis, que era uma pequena fortuna naquela época, quase dando para comprar um caminhão novo.
Para sua surpresa, o homem aceitou e o negócio foi fechado na hora.
O novo proprietário, que não sabia dirigir, contratou os serviços de um motorista para aulas práticas durante uma semana inteira, achando que a partir de então estaria apto para o volante.
Chegando a Dorizon, orgulhoso de sua compra, pois bem poucos tinham o privilégio de possuir condução própria naqueles tempos no interior e com a vantagem de poder dirigir ele mesmo, convidou seu compadre, dono de um curtume na cidade, para passear em Ponta Grossa, onde tinha parentes e amigos.
Partiram então, chegando ao destino sem maiores transtornos.
Na volta, o caminhão vazio, o curtumeiro achando um desperdício voltarem sem nada, pediu autorização ao companheiro para adquirir 1.000 kg de couro para serem curtidos em sua pequena indústria.
Efetuada a compra a bom preço, retornaram satisfeitos à estrada rumo à Dorizon.
No entanto, entre Rio Azul e Marechal Mallet existe uma Serra denominada "Tope das Freiras", caminho íngreme e perigoso, mas de passagem obrigatória aos dois viajantes.
O caminhão, que possuía freio mecânico, deveria nas descidas ser auxiliado com as marchas.
Quando chegaram ao "Tope", para iniciar a ladeira, o motorista atrapalhou-se, esquecendo-se de pôr a marcha para auxiliar o freio, o caminhão disparou numa correria louca e poeirenta.
O compadre ao lado, nervoso e com medo, reclama: "O Sr. é muito novo no volante, mas corre bastante!" O condutor do veículo desnorteado, sem saber o que fazer, grita-lhe: - "Corro porque não posso segurar essa porcaria!"
Apavorado, o curtumeiro abre a porta e salta rolando estrada abaixo durante alguns segundos, levan-ta-se então meio zonzo do chão, face toda arranhada, e desanda a correr feito doido atrás do veículo desgovernado que espalhava couro para todos os lados.
Mais ou menos 200 metros adiante, o caminhão tomba perdendo o restante da carga.
O caroneiro pára de chofre, esbaforido diante de tal cena, e constata aliviado que o motorista encontra-se em pé e inteiro, resultando dessa aventura somente danos materiais, graças a Deus!
Como o cidadão era muito bem situado financeiramente não lhe causou espanto o valor do prejuízo, após o conserto ou mesmo a reforma do Ford, continuou fazendo as suas barbeiragens durante muito tempo, felizmente nunca causando vítimas.
Quando obteve sua carteira de habilitação mandou pintar toda a carroceria do caminhão e em letras bem destacadas e graúdas para que todos lessem escreveu: "NÃO DA LUCRO, MAS É DIVERTIDO".
Maria de Fátima S. Moraes, dona de casa na Usina de Foz do Areia
Fonte: 300 e Tantas Histórias do Paraná, Brasil.
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