sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Histórias do Paraná - Descapitalização de Curitiba

Histórias do Paraná - Descapitalização de Curitiba

Descapitalização de Curitiba
Oney Barbosa Borba

Curitiba está comemorando centenário de sua descapitalização nos dois sentidos, político e financeiro: deixou de ser capital do Paraná e seu Tesouro ficou vazio.
Os "maragatos" tendo seu quartel-general no Desterro, depois de muitas escaramuças e entreveros, invadiram o Paraná pelo litoral e pelo interior, objetivando ocupar pontos estratégicos, com mais recursos para avançar sobre São Paulo, cuja população não morria de amores para com a ditadura florianista.
Nós paranaenses éramos, então, ligados às atividades dos comerciantes ervateiros, dos industriais madeireiros, dos tropeiros pecuaristas e politicamente divididos quase ao meio, entre "pica-paus" e "maragatos". O povão, sem liderança própria, titubeava entre os dois campos. O funcionalismo público, classe mais esclarecida, estava dividido: a maioria acomodatícia, sempre ao lado da situação, apoiando o emprego, isto é, o governo; alguns poucos, reclamadores contumazes, timidamente torcendo pelos revolucionários.
Em janeiro de 1894, os revolucionários enfrentavam resistência oposta na Lapa, mas com a queda em suas mãos das cidades de Paranaguá, Antonina, Morretes e rendição dos governistas, após a morte do Gal.
Carneiro, o comandante do 5o Distrito, Gel. Pêgo Junior, apavorou-se, e com ele o vice-presidente em exercício Dr. Vicente Machado.
Este tratou logo de assinar o decreto transferindo a capital para Castro. O decreto é de 18 de janeiro. O Dr. Vicente quis seguir os feitos do decreto, fugindo para Castro. O general ponderou-lhe que a cidade de Castro já estava nas mãos revolucionárias.
Gumercindo Saraiva, comandante dos revolucionários, tomou Curitiba sem combate. A cidade estava desgovernada.
Ele impôs o empréstimo de guerra para toda a região ocupada.
Organizaram-se comissões para arrecadar dinheiro.
Da comissão central fizeram parte o Barão do Cerro Azul e mais duas dezenas de notáveis curitibanos, gente bem posta na sociedade.
Comissão numerosa de pessoas mas mixada de recursos. Não chegou a arrecadar mais do que 300 contos de réis.
Realmente, Curitiba era uma cidade financeiramente descapitalizada.
Os curitibanos estavam empobrecidos.
Com a ordem de retirada dos revolucionários do território paranaense, o exército restaurador se mexeu de Itararé para alcançar a cidade de Castro.
Na altura da Cruz das Almas a vanguarda deu uns tiros que atingiram a torre da igreja, como que avisando sua aproximação. Aí os membros da câmara revolucionária tiveram tempo para debandar. O exército tomou a cidade assustada.
Com ele veio o castrense Dr. Vicente Machado que oficialmente instalou a capital do estado, em 12 de abril de 1894, cumprindo, assim, o decreto n° 24, de 18 de janeiro do mesmo ano. O governo constitucional, custodiado pelo exército florianista, nada fez civilmente; mi-litarmente, no entanto, alcançou alguns retirantes que fugiam para Guarapuava, ocasião em que o ferreiro Max Flugel foi degolado, o mesmo acontecendo com o juiz nomeado para Guarapuava, o Dr. Francisco Peixoto Lacerda Werneck.
Curitiba voltou a ser capital quando a tropa sob o comando do Cel.
Fermino Pires Ferreira entrou na cidade, abandonada pelos revolucionários.
Então, o Dr. Vicente Machado assinou o decreto n° 25, em 29 de abril, revogando o decreto n° 24, restabelecendo a capital novamente em Curitiba.

Oney Barbosa Borba, escritor, residente em Castro

Fonte: 300 e Tantas Histórias do Paraná, Brasil.

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