Histórias do Paraná - O pó de perlimpimpim
O pó de perlimpimpim
Rui Pinto
A exploração intensiva do café no Norte do Paraná resultou da expansão das lavouras paulistas para Oeste e da existência da ubérrima terra roxa do setentrião paranaense.
Os cafezais rapidamente se multiplicaram, com tal sucesso que em 1960, o Paraná ostentava a condição de maior produtor nacional da rubiácia, responsável pela metade da produção nacional e quase um terço da mundial.
Havia, entretanto, um porém: o terrível flagelo das geadas, como as de 1953 e 55, que devastaram milhões e milhões de cafeeiros. E não se encontrava jeito de evitá-las, ou de reduzir seus efeitos desastrosos.
Muito se cogitou sobre isso, mas sem resultado.
Todas as sugestões era muito dispendiosas.
Vai então que um esperto comerciante de Apucarana anuncia que achara a solução para a calamidade.
Para tanto trouxera do Rio de Janeiro dois doutores alemães, altos, loiros e saudáveis.
Dois legítimos saxões, com "aplomb" de cientistas laureados, que confirmaram possuir, realmente, o antídoto da geada, um pó maravilhoso, de cuja composição guardavam segredo, mas que se dispunham a submetê-lo a testes definitivos, tendo por palco a cidade.
A notícia produziu regozijo geral.
Seria a redenção do café do
Paraná! Assim, os doutores foram logo cercados pela curiosidade geral e crivados de perguntas, que satisfaziam de boa mente, falando de seus outros inventos, que eram muitos, embora sem avançar qualquer coisa mais sobre o antigêlo.
Ora, o finório do comerciante via nisso tudo a oportunidade de fazer grossa fortuna e então se dispôs a bancar os alemães.
Prometeu casa, comida e as despesas, a troco deles iniciarem desde logo os experimentos.
Com essa notícia a cidade ficou toda alvoroçada e não tirava os olhos do trabalho dos bruxos alemães.
Estes passaram os primeiros dias encerrados num barracão isolado, manipulando suas químicas, no preparo do antivírus da geada. Não se via nada, porém, da fórmula mágica.
Pelas tantas, solicitaram uma muda de café, escolhendo a mais tenra, que levaram para o barraco.
Horas depois voltaram com a planta recoberta de um pó amarelo-cinza, que, à frente de todos, foi colocada no congelador da geladeira, debaixo da maior atenção.
Era a prova suprema: se a arvorezinha sobrevivesse, o mal endêmico da geada estaria vencido e finalmente banido do Paraná.
Os dias se passaram e, de tempos em tempos, a mudinha era vistoriada. Lá estava ela, no fundo do congelador, embuçada sob o pó miraculoso, viva e tenra.
De repente, porém, passados mais dias, a planta foi se finando, finando, para nosso desespero.
Perdeu o viço rapidamente e acabou preta e morta.
Era o fim de nossas esperanças.
Refeitos do fracasso, passamos a examinar o pó impermeável.
Era só serragem e cola... Uma impostura! Os cientistas embusteiros haviam recoberto a planta com serragem... Como fazer nas lavouras de milhares e até milhões de cafeeiros adultos? Donde tirar tanta serragem? A que custo, porém, e para quê afinal?...
O que aconteceu depois com os gênios charlatões nem fiquei sabendo.
Consta, porém, que, invocando a condição de cidadãos estrangeiros, os tedescos pediram audiência ao então presidente Juscelino Kubitchek, alegando terem sofrido maus-tratos no Brasil. E não era para manos...
Rui Pinto, Procurador de Justiça
Fonte: 300 e Tantas Histórias do Paraná, Brasil.
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