domingo, 6 de julho de 2014

Histórias do Paraná - A.B.C. dos "Sem-Terra" (II)

Histórias do Paraná - A.B.C. dos "Sem-Terra" (II)

A.B.C. dos "Sem-Terra" (II)
Samuel Guimarães da Costa

Reproduzimos abaixo o A.B.C. de autoria de Julio Alves Machado, recolhido em 1940 no Norte do Paraná por Samuel Guimarães da Costa e publicado pela primeira vez na revista "O Livro", de Curitiba, em 1947:

A
A.B.C. do povo pobre que reside no sertão procurando um meio nobre de exclamar sua razão
B
Brademos humildemente ao governo Brasileiro
- um pobre povo obediente seus patrícios verdadeiros
C
Compadecei-vos de nós, nosso ilustre Presidente, por que recorrer a vós um pobre povo obediente?
D
Diremos todos contentes sendo de vós protegidos Viva o nosso Presidente Viva os Estados Unidos!
E
Este é o povo do sertão que fala neste papel e que pede proteção neste momento cruel!
F
Fomos nós os que fizemos nesta mata um picadão e do Governo requeremos da Bufadeira ao Rio Bom
G
Garantindo a nós o mapa uma zona nacional este assunto não escapa de uma razão especial
H
Houve vários requerimentos dos primeiros habitante
que prova ter bom intento o mateiro vigilante
I
Intimado pelo juiz a tornar a requerer todos fazem o que ele diz sem palavras lhe dizer
J
Jamais nós vamos pensar que pertença a uma fazenda, que um juiz pode enganar quanto mais fazer contenda
K
Ker o povo ver o certo seu estado reclamar todos assinam a descoberto sem a ninguém ameaçar
L
Lá assim o temos feito humilde e também ordeiro cumprindo o nosso dever de bom filho brasileiro
M
Muitos estão sem destino sem saber para onde vão sem ofícios e sem ensino e sem apoio do sertão
N
Nossa pátria é brasileira ninguém nos pode negar, portando, em nossa bandeira devemos ter um lugar
O
Ó Pátria! O Brasil querido! não siga errado teu trilho sendo o pobre desvalido desprezas teu próprio filho!
P
Pobreza não é defeito nem todos podem ser nobres e o calo é o mais lindo enfeito que existe na mão do podre
Q
Quem jamais viu o progresso em qualquer modo de empresa que possa ter bom sucesso sem os braços da pobreza?
R
Rico não vem no sertão se o sertão ficar tapera há de ser casa de leão ou de qualquer outra fera
S
Saudosa Pátria querida! não me negues teu torrão que por ti dou minha vida e o meu próprio coração
T
Todos nós temos esperança que havemos de ser valido da mais saudosa lembrança de um homem de bom sentido
u
Um homem querendo ser de Deus e todos valido fazei por favorecer que há de ser favorecido
V
Vitorioso será o filho que for humilde e obediente e seguir certo no trilho que traçar seu Presidente
X
Xorando o pobre mateiro humilde vem reclamar ao seu chefe brasileiro
- quem lhe pode consolar
Z
Zombar da lei não queremos nem tão pouco repelir conceda-nos onde moremos com prazo de restituir

Samuel Guimarães da Costa, jornalista e escritor


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