terça-feira, 15 de julho de 2014

Histórias do Paraná - Os sepultos da Serra do Mar

Histórias do Paraná - Os sepultos da Serra do Mar

Os sepultos da Serra do Mar
Daniel Jacobus Fabri

Certa vez, levando-me por trem a Paranaguá, meu avô contou-me que seu avô, chamado Giacommo, estava enterrado em determinado ponto da Serra do Mar, próximo à Estrada de Ferro, local este que ele me indicou quando o nosso vagão por ali passou.
De fato, o Giacommo viera da Itália com muitos companheiros e suas jovens famílias.
O início da colonização estrangeira na Província do Paraná data de 1869, quando chegaram os primeiros imigrantes que se radicaram em Curitiba na Colônia Argelina (bairro Boa Vista) e no atual bairro Pilarzinho.
Porém, por volta de 1873, um tal de Sabrino Tripotti, esperto empresário da colonização, através do famoso panfleto "Amico Colonno", espalhado aos milhares na Itália, conseguiu convencer algumas centenas de famílias a imigrarem ao Paraná, indo instalar-se em Alexandra, no Litoral.
Ainda empolgados pelo panfleto de Tripotti, em 1877 vieram outras centenas de colonos que se fixaram em Morretes, fundando ah vários núcleos, entre eles o mais famoso com o nome de Colônia Nova Itália.
Entretanto, as adversidades climáticas, insalubridades e outros fatores, tornaram quase impraticáveis a sobrevivência destas colônias.
Devido a isso, tais núcleos, em Morretes e Alexandra, mantinham-se à sombra dos trabalhadores "que ali se executavam por conta do Governo e na expectativa do desenvolvimento que a Viação Férrea deve trazer". (Cf.
João José Pedrosa).
Para se ter uma idéia do numero de pessoas, imigrantes ou não, que trabalhavam na construção desta ferrovia, nos relata o Barão de Capanema: "O doutor Teixeira Soares, para manter em serviços
3.000 operários, arregimentara 9.000, dos quais, para mais de 5.000 permaneciam doentes".
Não se sabe quantos morreram.
Mas a causa mortis principal era a febre amarela, seguida de acidente de trabalho.
Para se imaginar o número de acidentes de trabalho, fatais ou não, basta percorrer o trecho da Serra do Mar, e observar as pontes, viadutos e túneis ali construídos.
De malária também não se sabe, porém sabemos que o Nonno Giacommo não morreu deste mal, mas sim por achar que, tomando o vidro inteiro de remédio contra a maleita de uma só vez, curar-se ia de imediato.
Puro engano.
Deixou uma viúva jovem e bonita e dois filhos.
Com o término da ferrovia em dezembro de 1884, muitos imigrantes sobreviveram e espalharam-se por Curitiba e Paraná adentro.
Outros, como os Giacommos, Pietros, Giuseppi e "eticeteras", sepultos da Serra do Mar, deixaram apenas suas "sementes" que fecundaram e hoje constituem a grande maioria dos descendentes daqueles imigrantes italianos intrépidos e desconhecidos.

Daniel Jacobus Fabri, engenheiro químico


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