Histórias do Paraná - Matança no sertão
Matança no sertão
Ivo Nalce
Até o final dos anos 50, e até um pouco mais, a região de Tibagi, Reserva, vivia na sanha de bandidos aliados, ou gerados, de políticos. O banditismo campeava promovido pelos chefes da politicagem local.
Manhã de terça-feira, 6 de janeiro de 1930, Carlos Soebel abre o armazém de Orlando Soares & Cia, em Reserva. Vê a janela dos fundos arrombada, pegadas de muitas pessoas e cerca de seis contos de réis em mercadorias roubadas.
Quem foi, quem não foi? O menino Gabriel desvenda o mistério: foi o bando de seu patrão Gabriel Bueno da Cunha, chamado "o Lampião de nossos sertões". Para comprovar trouxe alguns objetos roubados e informa que o bando está escondido em Lajeado, a duas léguas da cidade.
O delegado Joaquim Carneiro não vai, mas manda o cabo Ângelo Fultert e o soldado José Santos (toda a força policial de Reserva) à cata dos bandidos.
De voluntário vai o civil Abílio Barbosa. O menino Gabriel segue junto para mostrar o esconderijo.
Sabendo que o bando é numeroso, o advogado Mario Santos vai a Ponta Grossa pedir reforços.
O tempo passa e nada dos caçadores de bandidos voltarem à cidade, cai a noite.
Na manhã de quarta-feira, o menino Gabriel volta e conta o que aconteceu: Quando chegaram perto^ do covil dos bandidos, o cabo Ângelo manda o menino ficar para trás esperando os reforços.
Dali a pouco, Gabriel escuta o tiroteio, conta mais de vinte tiros.
Se esconde no mato onde pernoita, de manhã espia e conta cinco cadáveres estirados no chão.
Os moradores de Reserva ficam horrorizados com o relato do menino.
Populares vão até Lajeado e o "Lampião" não deixa ninguém chegar perto e avisa que mata quem vier.
Os reforços policiais pedidos não aparecem, a polícia de Ponta Grossa queria pagar trezentos mil réis pelo transporte dos soldados, os motoristas queriam quinhentos para meterem seus caminhões numa estrada só de lama num dia de muita chuva.
Em Reserva, o farmacêutico José Andrade, vendo que não podiam contar com as forças da lei, reúne alguns moradores armados e decidem atacar o bando de Gabriel Bueno da Cunha.
Na frente vai o farmacêutico e mais dois homens com winchesters, logo atrás vem uns dez homens armados com revólveres.
Quando chegam no paiol onde estavam os bandidos, Gabriel Bueno da Cunha e mais três capangas se entregam sem resistência.
Dizem que o chefe foi outro bandido famoso da região, Salvador Major.
Salvador está morto na cama ainda como o 38 na mão, ao lado da mulher Colatina.
No potreiro, em frente ao paiol, na lama debaixo da chuva, os corpos do cabo Ângelo e do civil Abílio Barbosa. O corpo do soldado José Barbosa não é achado.
José Barbosa vai aparecer, mais tarde, com a história que fugira na hora do tiroteio.
Os reforços de Ponta Grossa finalmente chegam, 15 soldados.
Os cadáveres são levados para Reserva, amarrados no lombo de cavalos.
Feita a autópsia, constáta-se que o cabo e o civil foram mortos com tiros nas costas.
Na verdade, o que aconteceu durante o tiroteio? Ninguém sabe explicar.
Um mistério não resolvido, dos muitos mistérios duma região do Paraná onde imperava o banditismo protegido pela politicagem.
Ivo Nalce, historiador
Nenhum comentário:
Postar um comentário