quarta-feira, 2 de julho de 2014

Histórias do Paraná - Cana dura

Histórias do Paraná - Cana dura

Cana dura
Nilson Monteiro

Na bola ou na bala.
No feudo agri-doce da família Meneghel, em Bandeirantes, seu time alvinegro de futebol só pode conjugar um verbo: vencer.
Ou, trocando em miúdos, no estádio da Vila Maria, o bagaço é mais amargo para os adversários. E, de quebra, para os árbitros e bandeirinhas. A mística dos irmãos Coragem — Serafim e Antoninho — nasceu junto com seu time, nos anos 60, escorada nos cabos dos "Schmidt and Weston", caübre 38. Mas cresceu também respaldada por duplas tão maravilhosas quanto infernais dentro de campo, como Paquito e Tião Abatiá ou Geraldão Xesco ou Nondas e Russinho...
Em 1968, o União disputava, em Vila Maria, um jogo contra o Seleto, de Paranaguá, que, se perdesse, cairia fora da Divisão Especial.
Mas, acabou endurecendo a cena para o time dos Meneghel, que não admitiam outro resultado que não fosse a vitória.
Pelas tantas, o Seleto fez boteco da área do União, cujos zagueiros, em lance inevitável, cometeram pênalti.
Claro. O "juiz", com cara de bebê com mamadeira roubada, apitou.
Soprou e sobrou para ele.
Serafim alisou a barba, partiu pro meio de campo, formou-se o bolo, ouviu-se um estampido.
Meneghel, sob seu chapelão, jogou baforadas de cigarro de palha na cara do árbitro: "O que você marcou, seu safado?" Resposta: "Falta técnica contra o Seleto!"
Em outra ocasião e de novo para despencar da Divisão Especial, o Seleto foi mais uma vez protagonista das histórias de Vila Maria. O União Bandeirantes desta vez precisava empatar para disputar um quadrangular entre os primeiros classificados do Estado.
No primeiro tempo, o Seleto cansou de buscar a bola no fundo das redes: 5X1. A "dupla caipira" Paquito e Tião Abatiá estava simplesmente endiabrada.
Os Meneghel riam por todos os poros.
Começou o segundo tempo e a dar zebra: os jogadores do Seleto pareciam ter mamado até o receituário médico.
Com ou sem boletas, provocavam desesperos nos cardíacos: 5X5. Minutos antes do final do jogo, o "juiz" teve a santa imprudência de assinalar pênalti contra o União.
O pau quebrou. O árbitro ficou com as orelhas quentes de cascudos desferidos pelas mãos do massagista Saracotê, o goleiro Mão de Onça, do União, catimbava de um lado, o zagueiro Pescuma de outro, os Meneghel estimulavam a fumaça... Finalmente, não se sabe por graça de quem, Serafim e seus comandados recuaram.
Deixaram o atacante de Paranaguá colocar a bola na marca de cal para cobrar o pênalti.
Para fora, é claro.
Até hoje, contam que o artilheiro foi incentivado a "errar" o gol por uma boa soma de dinheiro e pelo cano do revólver de Aparecido Zavan, o popular "Leilão", o amigo da família Meneghel e na época diretor de futebol do União.

Nilson Monteiro, jornalista


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