Histórias do Paraná - O Agiota
O Agiota
Luiz Cláudio Mehl
O cidadão que cobra juros por empréstimos de dinheiro certamente é um espécime em extinção no nosso país.
Neste Brasil dos nossos tempos ele não suportaria a concorrência das taxas oficiais, além de ser incapaz de suprir a voracidade dos governos, principais tomadores de recursos.
Esta no entanto não era a realidade dos anos cinqüenta.
Naquela época os agiotas dividiam-se entre aqueles que extorquiam, e os que alavancavam empresas e pessoas com dificuldades momentâneas.
A história que segue aconteceu em Imbituva.
Pequena cidade do interior do Paraná, hoje florescente produtora de malhas, naquela época sede de importantes indústrias beneficiadoras de madeira.
O agiota que atendia Imbituva vinha toda semana de Ponta Grossa, visitava os "clientes", de quem cobrava juros devidos e indevidos.
Ele estava entre os que extorquiam as pessoas.
Os rumores de protesto alcançaram os ouvidos atentos do "seu" Eduardo Sponholz, que viria a ser tronco de ilustres figuras do nosso Estado.
Ele era uma espécie de cacique local e pertencia ao velho PSD.
A sociedade Imbituvense estava revoltada com o agiota. E isto também aborrecia o político experiente.
Numa tarde, enquanto aguardava o ônibus de retorno para Ponta Grossa, o agiota recebeu um estranho convite para "prosear" com "seu" Eduardo.
Dirigiu-se então para a casa localizada em frente ao ponto de ônibus. A porta de entrada ficava sempre aberta e levava a um extenso corredor onde era colocada uma mesa com duas cadeiras.
Dali "seu" Eduardo assistia a todos que chegavam, e saiam da cidade.
A "prosa" durou mais de uma hora, tempo em que o velho líder não parou de reabastecer a cuia de chimarrão com água fervente. O tom amigável da conversa surpreendeu o agiota, que ao final embarcou no ônibus de regresso.
No dia seguinte, logo na chegada do primeiro ônibus, "seu" Eduardo correu ansioso na direção do motorista, perguntando:
- "Olá compadre! Como foi a viagem de ontem?"
O motorista respondeu irritado:
- "Por três vezes fui obrigado a parar o ônibus a pedido daquele agiota.
Ele corria para o mato, e voltava pálido.
Na quarta vez, ele
desembarcou no posto fiscal".
Matreiramente, "seu" Eduardo afastou-se, sem disfarçar o sorriso zombeteiro quando lembrava da erva espinheira santa, um poderoso laxativo misturado ao chimarrão.
Desde então há informações de que os juros cobrados em Imbituva não ultrapassaram níveis além do tolerável.
Luiz Cláudio Mehl, engenheiro civil.
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