Histórias do Paraná - As mãos do Governador
As mãos do Governador
Elizabeth M de Azevedo
As batalhas travadas entre os governos estaduais e os professores sempre foram memoráveis no Paraná. Greves, manifestações, caravanas e acampamentos em frente ao Palácio Iguaçu pontuam a história das reivindicações salariais.
Ao longo dos anos, foram crescendo mágoas de ambos os lados, assim como surgiu também o reconhecimento das partes pelas dificuldades e problemas que cada qual lado enfrentou, o governo estadual às voltas com um período recessivo da economia e os professores sem ter como sustentar suas famílias.
Ninguém saiu ileso, é verdade.
Hoje, numa situação mais tranqüila, é possível até mesmo recordar fatos hilariantes.
Durante o governo de José Richa, num desses embates inesquecíveis, as lideranças anunciaram a realização de uma greve geral com data marcada. O governo reagiu, dizendo que poderiam fazer a greve pelo tempo que quisessem, que o Estado não iria atender as reivindicações. E mostrou-se irredutível, recusando-se até mesmo a receber a comissão de representantes.
Um grupo de 13 professores, vindo de várias cidades, juntou-se e decidiu esperar o governador no aeroporto, único local acessível para uma conversa.
Horas e horas de espera e nada de Richa.
Dezenas de cafezinhos, conversas, o discurso que deveria ser feito para o governador na ponta da língua, repetindo como o bê-a-bá.
Lá pelas tantas, quando todo mundo já estava prestes a desistir, eis que chegava Richa.
Ar cansado, seguranças dando pressa, assessores querendo impedir o grupo dos 13 de se aproximar para não irritar mais o homem.
José Richa, em meio ao tumulto do pequeno grupo que, inesperadamente, o cercou, começou a dar a mão para cada professor, afável, mas rápido, sem dar tempo para conversar.
Tudo ia bem, até Richa dar de cara com um antigo ativista da categoria, Luiz Teodoro Garcia, de Londrina, conhecido por suas posições moderadas nas assembléias, sempre tranqüilo e dispostos a resolver mais problemas técnicos das manifestações do que propriamente ideológicos.
Jamais fora visto com os chamados "incendiários".
Garcia, para surpresa de seguranças, assessores e, principalmente, dos próprios colegas, agarrou a mão do governador com toda a força e disse:
- "Agora, o senhor vai ouvir tudo o que os professores tem para lhe dizer".
Richa tentou puxar a mão e Garcia veio junto.
Ficaram frente a frente. O discurso começou.
Reivindicações, penúria dos professores, manifestações e greves.
Richa ouvindo, ora olhando para Garcia, ora para os seguranças, ora para os professores. E as duas mãos lá, coladas.
Garcia sentia o suor escorrendo entre os dedos, sentia puxões de vez em quando, cochichos dos seguranças, mas não desistiu.
Falou tudo o que pretendia e só então soltou, finalmente, a mão do governador.
Richa, meio constrangido, meio aliviado, disse que ia pensar.
Se pudesse atenderia as reivindicações. E foi embora.
Garcia, abraçado pelos colegas, se transformou no herói daquela noite.
Para ele, enfrentar uma autoridade daquela forma, fora uma atitude mais pessoal do que coletiva.
Era preciso salvar a dignidade do grupo que, depois de tão longa espera, não poderia ir embora de boca calada.
Dois dias depois, o governador José Richa atendeu às reivindicações dos professores e a greve, marcada e anunciada como a maior de todos os tempos, foi cancelada.
Elizabeth M. de Azevedo, professora secundarista estadual
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