Histórias do Paraná - Visita médica
Visita médica
João Carlos Calvo
Esta é uma história da minha Paranaguá, que não conta nenhum caso de apelido.
Foi-me narrada pelo meu falecido pai, faz muito tempo.
Deve ter ocorrido lá por 1935.
A cidade era pequena e pacata.
Todos ou quase todos se conheciam.
Como era natural, havia grupos compostos por pessoas com mais afinidades entre si.
Por isto, se reuniam quase todos os dias, sempre à mesma hora e no mesmo local. Não tinha muitas coisas para fazer e precisavam "inventar".
Já naqueles tempos tentavam salvar o Brasil...
Um dos grupos se reunia no café do Pedro, ali na rua XV, em frente à loja do "Alberto Veiga".
Sentavam-se às mesinhas, no tempo em que o cafezinho ainda era servido às pessoas que ao redor delas se aboletavam.
Certo dia estava ali, "batendo o melhor papo", quando um morador da ilha dos Valadares, naquele tempo nominado como "caboclo", se aproximou deles e se dirigiu ao Dr. Roque Vernalha, médico extremamente humanitário, símbolo maior, até pelo "volume", do saudoso tipo do "médico de
família".
- Dr. Roque, o senhor poderia ir ver minha patroa que não está passando bem?
- O que ela tem?
- Não sei, por isso estou aqui.
- Onde ela esta?
- Em casa, nas Valadares.
O bondoso e pachorrento medico, na melhor da conversa, se levantou, pediu licença, e lá se foi, junto com o marido da doente.
Eram mais ou menos 18 horas.
Ia atravessar o rio Itiberê de canoa. E voltar também! Não seria nada fácil acomodar todo aquele corpanzil numa pequena embarcação.
Dois ou três dias depois deste fato, o grupo estava reunido, como de praxe, comentando a vida e filosofando...
- Dr. Roque.
Quando o médico se virou e "deu" com o marido da mulher que fora atender dias atrás, preocupado perguntou:
- O que há com sua mulher? Não está bem outra vez?
- Está doutor, está.
- Você tem algum outro problema?
- Não doutor, não.
Eu só vim até aqui prá perguntar para o senhor se eu posso tirar o remédio de baixo
do braço da patrôa...
Pois é.
O bonachão Dr. Roque, após examinar a doente, começara de prosa com os familiares dela e depois retomara a Paranaguá.
Havia, porém, esquecido o termômetro... no "sovaco" da doente!
João Carlos Calvo, engenheiro civil
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