sexta-feira, 18 de julho de 2014

Histórias do Paraná - Papai Noel x Vovô índio

Histórias do Paraná - Papai Noel x Vovô índio

Papai Noel x Vovô índio
Ruy C. Wachomcz

No final do século XIX e início do XX, eram bastante acentuados os conflitos aculturativos detectados na sociedade curitibana.
Os estrangeiros com seus descendentes formavam um contingente respeitável na formação da população.
Em tais circunstâncias, eram inevitáveis as trocas e influências etno-culturais existentes.
Procurando minimizar essa aculturação, alguns elementos de origem luso-brasileira, que se consideravam "patriotas" e "nacionalistas", começavam a criticar as influências que os imigrantes já começavam a exercer.
Esse comportamento detectava-se inclusive nas festas e nas tradições natalinas comemoradas de formas variadas pelos diversos grupos.
No Paraná, os luso-brasileiros praticamente não possuíam tradições natalinas.
No máximo era uma ceia, o comparecimento à tradicional "missa do galo" e bailes onde destacava-se uma "caboclinha no jeito", uma "chimarrita" e o violeiro no fundo do salão, cercado de inúmeros admiradores.
A partir da segunda metade do século XIX, nas colônias ao derredor da capital surgem as figuras do "presepe", do "pinheirinho" e pouco mais tarde o chamativo Papai
Noel. O presépio foi melhor aceito pelos luso-brasileiros: afinal já existia o culto do "Menino Jesus" oriundo de Portugal.
Com relação ao "pinheirinho" e à figura do Papai Noel, as reações foram mais fortes.
Os "pinheirinhos" cobertos de pedaços de algodão, imitando a neve e enfeitados com objetos reluzentes (considerados quinquilharias desgraciosas), eram costumes introduzidos na cidade pelos alemães e poloneses. O algodão imitando a neve era visto como costume anti-brasileiro, deformador da mente infantil, já que em dezembro não havia neve e a temperatura podia chegar a 30°C.
Foi o Papai Noel a figura que recebeu mais críticas.
Essa tradição, oriunda do folclore nórdico, foi introduzida no Brasil, sob a versão francesa, e divulgado no mundo pelo capitalismo protestante.
Alguns em Curitiba viam-no sob a ótica do ridículo, vestido de "capotes siberianos" e peles "groelândicas", andando de trenó, e tendo seus cabelos, barba e rebuço salpicados de flocos de neve: exotismo caricato.
Era assim que "eles" (os imigrantes) comemoravam o nascimento do Menino Jesus.
Logo após a Revolução de 30, com o nacionalismo à flor da pele, cariocas, paulistas e paranaenses tentaram substituir essa figura escandinava por uma outra, "tupiniquim", mais brasileira.
Criaram a figura do "Vovô índio", substituto artificial da figura do Papai Noel.
Pensavam seus criadores que estavam dando o primeiro passo para "abrasileirar o Brasil".

Ruy C. Wachomcz historiador e professor da UFPR


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