quinta-feira, 3 de julho de 2014

Histórias do Paraná - A gloriosa mas breve, existência de Tamanduá

Histórias do Paraná - A gloriosa mas breve, existência de Tamanduá

A gloriosa mas breve, existência de Tamanduá
Ernesto Carvalho

Tamanduá - mesmo com esse nome - poderia ter sido uma das maiores cidades do Paraná, senão a maior, quem sabe até a Capital.
Ou então Iguatemi, São Bento do Tibagi, Nova Vila do Ivaí e Conceição do Caiacanga.
Vilas ou vilarejos cujos nomes hoje só se encontram em raros livros de história, tiveram em comum a relativa importância na segunda metade do século XVIII e o gradativo desaparecimento a partir de 1820.
Porque estranhos desígnios essas comunidades desapareceram é uma questão que nem sempre os livros de história conseguem esclarecer.
Mais que desaparecer, o que sucedeu a essas comunidades é que estacionaram, deixaram de crescer, sustentava o falecido historiador Davi Carneiro, fixado no óbvio efeito e também sem conseguir atinar com a causa.
De todas, Tamanduá teve a história mais curiosa.
Ela nasceu à mesma época em que Curitiba também nascia, como sede de uma fazenda nos campos do segundo planalto, a coisa de uma légua da atual Palmeira. E não foi pouca coisa, não.
Além de Curitiba, ensina Davi Carneiro em sua "História da Palmeira", em meados do século XVIII apenas quatro pontos tinham importância e se eqüivaliam em toda a vasta região dos campos gerais: Lapa, São José dos Pinhais, Castro e Tamanduá.
Por essa época, Tamanduá era uma cidade em formação, já estava constituída em freguesia, tinha tudo para continuar crescendo e vir a ser uma bela cidade.
Possuía uma simpática e atraente capela colonial devotada a Nossa Senhora da Conceição, várias famílias abastadas e seus agregados já moravam ali, tinha uma força miliciana e, de quando em quando, assistia à partida de grupos de aventureiros armados rumo à conquista do Oeste misterioso.
Tamanduá possuía, inclusive, um dos dois únicos conventos de Carmelitas de toda a comarca - o outro ficava em Santo Antônio do Capão Alto, que também poderia ter se transformado em cidade e não foi além de fazenda, a Fazenda Capão Alto, perto de Castro.
Quando passou por ali, em 1820, Tamandua chamou a atenção do naturalista francês Saint Hilaire, que arriscou um palpite, em seus escritos, prevendo que a cidade cresceria muito dali para diante.
Foi um palpite mais que infeliz.
Precisamente por essa época, começou a morte lenta de Tamanduá e o crescimento de um lugarejo vizinho de uma légua, que poucos anos antes não passava de um curral de vacas de um sítio abandonado.
Era a Freguesia Nova, fundada em 1817, que breve sobrepujaria Tamanduá com o nome de Palmeira.
Em 8 de dezembro de 1837, a imagem de Nossa senhora da Conceição foi transferida de Tamanduá para a igreja de Palmeira.
Era o golpe de misericórdia em Tamanduá, que definhou o que lhe restava definhar até se transformar em algumas ruínas. Já Palmeira, seria nos 50 anos seguintes a cidade mais importante de todo o interior do Paraná.
O que determinou a morte de Tamanduá e o surgimento, da noite para o dia e quase no mesmo lugar, da importante Palmeira? O destino, quem sabe.
Mas insondáveis são os mistérios do destino que decide, sem qualquer razão aparente, essa troca de papéis entre duas comunidades.

Ernesto Carvalho, radialista e pesquisador


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