terça-feira, 8 de julho de 2014

Histórias do Paraná - Da cor do pecado

Histórias do Paraná - Da cor do pecado

Da cor do pecado
Luiz Groff

Era 1943 e a qualquer momento aqueles bravos rapazes do CPOR poderiam embarcar para a guerra.
A iminência do embarque era pura neura, mas o cinema ajudava a criar o clima. E como os rapazes dos filmes dissipavam a tensão dançando swing, os de Curitiba, dançavam bolero. Lá, com as namoradas, aqui com as putas.
Rua Mucicy, número 1000. Na esquina da Augusto Stelfeld, onde a ladeira acentua, lado esquerdo, que do direito era o muro das freiras do Divina Providência, ficava a Casa da Ginette.
Nos boleros arrombava Tedda Diamant, que chamava todo mundo de "mon Cherri" e se dizia francesa, mas era da Rondinha.
Fazia-se respeitar, no máximo acompanhava um champagne, mas não fazia mixê, só dava pro cafetão, o gringo do bandoneon, duplamente argentino, pelo nascimento e pelos cabelos nas têmporas.
Característica daquela época de moralismo e repressão, o bordel era estritamente familiar.
Dançar, só à distância, um mestre sala impedindo o encoxe.
No quarto, só com luz apagada e nada de beijo na boca. E se o "instante" se prolongava, lá vinha a indefectível batida na porta: - Jandira, pelo que pagou, este cara não está pensando que vai passar a noite, né?
Felizmente a tesão da rapaziada era feroz e, apesar da pressão, ninguém brochava, nem acabava no analista.
No meio da turma, destacava-se Estanislau Tomashek, dentista, que, curso mais curto, já trabalhava enquanto os outros ainda estudavam.
Competente, trabalhador, simpático, alto, louro, olhos azuis, seria um bom partido não fossem dois detalhes.
Era polaco e era dentista.
Na turma, era popular, já que sempre tinha dinheiro para pagar as contas.
Só se dava mal quando tentava namorar uma irmã de um amigo, porque daí pintava preconceito, levava um chute e a menina era mandada passar uns tempos no Rio, para esfriar a cabeça, porque Tomashek, apesar de ser polaco e dentista, era atraente, deixava saudades...
Naufragado na tristeza, Tomashek, a cada desilusão, se internava na Ginette, onde, carteira recheada, era rei.
Monopolizava a bela Paulette, irmã de Ginette, por parte dos "ettes", enchia os cornos de champagne e só saía na hora da casa
fechar.
E tinha de, porque os finalistas do começo da noite já punham olhos de lobo para cima de Paulette, apenas esperando o polaco ir embora, para traçar a caça.
Uma noite, nas adiantadas da matina, não agüentando mais o prepuxo, pois tinha canal bem cedo, explodiu:
- Paulette, vou deixar esta vida.
Quer casar comigo?
- Mais, non! Impossible! Você é dentista e polaco!

Luiz Groff, engenheiro e cronista


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