segunda-feira, 14 de julho de 2014

Histórias do Paraná - Heróis da Lapa

Histórias do Paraná - Heróis da Lapa

Heróis da Lapa
Francisco Brito de Lacerda

A Revolução Federalista, se examinada como luta fratricida, não deixa de ser um infortúnio, uma desventura, até. Muito melhor se não tivesse acontecido.
Embora da guerra civil adviessem injustiças de lado e lado, isso não implica em negar-se à resistência da Lapa a condição de episódio memorável.
Também a Guerra da Secessão, nos Estados Unidos (ação sangrenta entre irmãos e, por isso, uma desventura) não obstou que aquele país passasse a cultuar como herói nacional o general Lee (comandante sulista, cercado em Appomatox), que só capitulou após indômita resistência.
Entre 16 de janeiro e 10 de fevereiro de 1894, a Lapa resistiu ao cerco federalista, e o fez de forma decidida, impávida, a ponto de o feito de seus defensores, conforme Rocha Pombo, figurar como "exemplo na história pátria". Cercada de montanhas, a pequena cidade era local propício para não resistir 48 horas, ou 72 horas no máximo, como calculava Gumercindo.
Os sitiados tinham mais de 900 homens (os mais otimistas chegam a admitir 1200), mal adestrados, na maioria civis voluntários, descrescidos em recursos bélicos.
Os sitiantes, enquanto isso, contavam com uns 3 mil homens, postos em plano avantajado, sob todos os aspectos.
Mas a Lapa, em lugar de agüentar o cerco por 48 ou 72 horas, prolongou essa prodigiosa epopéia pelo espaço de 26 dias.
Aqueles 26 dias, com os federalistas retidos em volta da Legendária, sem condição de conquistar novos espaços, contribuíram, e muito, para consolidar a República nascente.
Entre os maragatos ou federalistas, conviviam quatro grupos heterogêneos.
Querendo substituir Floriano no poder, os adeptos de Custódio de Mello pregavam o golpe. Já o almirante Saldanha, vulto da Guerra do Paraguai, não escondia sua maior aspiração: restabelecer a monarquia, entregando-se o trono à Princesa Isabel. A terceira tendência (majoritária, por sinal) preconizava o parlamentarismo federalista: eram os seguidores de Gaspar Silveira Martins, um radical. E, por último, os libertários, entre eles caudilhos oriundos do Uruguai, com o lendário Gumercindo a ostentar o papel de chefe do chamado Exército Libertador.
Enfrentando aqueles dias de matança e torturas, o general Gomes Carneiro e seus comandados defendiam a ordem constituída, o cumprimento de um dever militar.
Tais valores explicam por que as comemorações do ano de 1994, centralizadas na Lapa, guardam um caráter nacional.
Razões diversas, entretanto, levam algumas pessoas a cultivar cega ojeriza à memória daqueles que ajudaram a salvar a República.
Floriano é uma dessas vítimas, e o pretexto vem sendo a tragédia do quilômetro 65, quando o Barão do Serro Azul e seus companheiros foram cruelmente assassinados.
Sem menção aos crudelíssimos degolamentos, também criminosos, essas pessoas (e ninguém lhes tira o direito de teimar) alegam que tudo não passou de vindita dos pica-paus. Não querendo reconhecer no general Ewerton Quadros (um nevropata) a responsabilidade pela eliminação de inocentes, valem-se os negativistas (na base do "consta") para lançar acusações a Floriano, com o objetivo (consciente ou inconsciente, não se sabe) de empanar o brilho das comemorações do ano de 1994. A verdade, porém, é bem outra. A tragédia da Serra uniu, no Paraná, pica-paus e maragatos.
Isso está no livro de Leôncio Correia, que era sobrinho e afilhado do Barão, além de florianista exaltado. O livro teve
colaboradores pertencentes aos dois lados. O doutor João Cândido Ferreira, capitão-médico das forças legalistas, que deu assistência final ao general Carneiro, foi um deles.
Referindo-se ao fuzilamento do Barão e de seus amigos, definiujoão Cândido o episódio como "o mais covarde, e o mais tétrico o mais revoltante dos crimes".
A cidade da Lapa, por decisão do Conselho do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, considerado seu acervo arquitetônico e sua história, palco que foi do cerco de 1894, marcante na vida brasileira, passou à condição de patrimônio nacional, tal como Ouro Preto, Olinda, Parati.
Significando a vontade do povo do Paraná, a Constituição Estadual de 89 determina a criação de comissão para promover as comemorações alusivas aos 100 anos da morte do general Carneiro, em fevereiro de
1994. E o ministério do Exército deu à Quinta Região Militar, que compreende o Paraná e Santa Catarina, o honroso e dignificante título de REGIÃO HERÓIS DA LAPA, integrante de sua bandeira.

Francisco Brito de Lacerda, advogado


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